sábado, 31 de maio de 2008

Empreendorismo e criatividade num meio competitivo


Gosto muito de ver a Amy Winehouse a trabalhar. É uma pessoa extremamente competente na sua profissão de toxicodependente. De facto é muito raro encontrar bons profissionais nesta área mas, devido ao seu esforço, Amy atingiu um estatuto que é raro um toxicodependente conseguir atingir.

Geralmente, para conseguirem dinheiro para droga os toxicodependentes arrumam carros ou apontam seringas contaminadas com o HIV aos transeuntes. Reconheço que são métodos eficazes mas já começam a cansar. Embora estes métodos funcionem, ameaçar as pessoas (ainda que muitas vezes implicitamente) de que vão ter o seu carro riscado ou vão apanhar SIDA se não lhes financiarem o vício acaba por, a longo prazo, manchar a imagem dos toxicodependentes perante a sociedade e por estigmatizar uma classe que tanto tem lutado para se afirmar. Ao cantar umas musiquinhas para todos aqueles que lhe financiam a droga, Amy Winehouse afirma-se como uma toxicodependente empreendedora e consegue, muitas vezes, sacar mais dinheiro numa noite do que alguns drogados numa semana.

Embora a toxicodependência no showbiz não seja original (sim, esta é para ti, Tony Carreira!) e apesar de muitas vezes os espectáculos da Amy sejam tão agradáveis como ser ameaçado com uma seringa ou tão decadentes como ouvir o Quim Jecta, o drogado da minha rua, a cantar o fado e a fazer sapateado enquanto espuma da boca, é sempre bom, num país com tantos incompetentes como o nosso, ver alguém a desempenhar a sua função de forma tão exímia.

Ontem, dezenas de milhares de portugueses pagaram droga à Amy Winehouse. Tudo em nome de um Mundo melhor, é claro…

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O grande líder



Interrompo esta minha longa ausência para falar sobre George W. Bush que, como sabemos, é conhecido pela sua imitação hiper realista de um chimpazé a guinchar depois de levar com um coco no meio da cabeça. No entanto há algo que muitos de nós desconhecemos sobre este senhor: ele é Presidente dos Estados Unidos da América (um país que fica no continente americano). É fácil esquecer este facto devido às suas grandes prestações como imitador de chimpazés que acabam por abafar todos os outros feitos deste senhor mas não é de Bush imitador, sobre o qual já tanto foi dito que vou falar (para quem se interessa por esta faceta de Bush recomendo a obra "Man or Monkey" do jornalista do New York Times John McStevenson). Vou falar sobre essa faceta mais obscura desta personalidade que é a sua faceta de Presidente.

Bush é Presidente de um país que está em guerra. Facto facilmente comprovado pela multiplicação de campos de refugiados em Beverly Hills, no Upper East Side de Manhattan e em Miami Beach. É um país que está em crise, que sofre muito com a guerra que está a atravessar e a quem são exigidos imensos sacrifícios. É um povo que está de parabéns pela sua coragem e pela maneira audaz com que enfrentam esta guerra. É comovente ver na televisão todos aqueles habitantes de Orange County, esfomeados, com as suas senhas de racionamento, a aguentar corajosamente nas filas, sobrevoadas por abutres que esperam que o primeiro deles caia inanimado. No entanto, é preciso fazer justiça ao seu líder! Todos estes esforços são mais fáceis quando se tem um líder corajoso, que é o primeiro a dar o exemplo e que se junta ao seu povo no tremendo sacrífico que lhes é pedido...

Pois é, aquele que tanto nos anima com a sua imitação de um chimpanzé enraivecido, juntou-se ao sofrimento do seu povo e fez o último dos sacrifícios: deixou de jogar golf!
Não consigo imaginar o sacrifício de alguém que passa 4 anos sem jogar golf... Fico comovido ao imaginar o orgulho daquele veterano da guerra do Iraque que perdeu as pernas e os braços e que apresenta lesões neuronais que o impedem de pronunciar 3 palavras seguidas ou o orgulho daqueles pais que perdiram os seus filhos gémeos perante este acto do seu Líder: "ele está a sofrer connosco" dizem eles com a lágrima nos olhos. Imagino o temor do povo do Iraque, esses facínoras, perante um inimigo que consegue abdicar desse bem tão precioso e imprescindível que é uma partidinha de golf semanal: "Se ele foi capaz de fazer isto nem imagino o que fará connosco!" grunhem eles enquanto disparam tiros de metralhadora para o ar.
Há quem diga que o esforço é exagerado (um grupo de veteranos fez uma manifestação há uma semana a pedir para Bush acabar com o seu sofrimento... "Nem nós sofremos tanto" gritavam eles do alto das suas cadeiras de rodas), há até quem diga que tudo isto é bluff (o que é mentira visto que não há qualquer registo de entrada no seu Country Club desde Março de 2003... o que comprova o estóico esforço deste homem abençoado pelas estrelas) mas ninguém pode negar que quando vir este homem a imitar um chimpanzé pigmeu vai vê-lo com outros olhos, vai vê-lo como um grande líder que imita de forma sublime um chimpanzé. Ganhou, definitivamente, o seu lugar no Olimpo dos Grandes Líderes!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Esmeralda Superstar


Achei curioso terem decidido doar as receitas do Jesus Cristo Superstar aos pais afectivos da menina Esmeralda. É inevitável estabelecer um paralelismo entre a história desta menina e a história de Jesus. Também em bebé, Jesus foi abandonado pelo seu pai biológico, o que levou a que tivesse que ser adoptado por um pai afectivo, S. José, que lhe deu todo o amor e lições de carpintaria que precisava. Tal como no caso Esmeralda, também o pai biológico de Jesus recorreu à justiça (neste caso a divina) para reaver a custódia do seu filho. Isto permite concluir que se a justiça portuguesa for tão eficiente como a divina só aos 33 anos é que Esmeralda se vai juntar ao seu pai biológico Baltasar... A principal diferença entre os dois casos é que no caso de Jesus não vemos nenhum psicólogo ou pedopsiquiatra a falar do trauma que vai ser para a criança se for retirada aos seus pais afectivos, para ir viver com alguém que não conhece de lado nenhum! É o problema da nossa justiça: ter 2 pesos e duas medidas. Se formos um Baltasar somos tratados de uma maneira, se formos Deus somos tratados de outra... Sonho com uma justiça em que independentemente de sermos Baltasar ou Deus somos tratados da mesma maneira! Ainda por cima a maneira como Deus decidiu recuperar a sua criança é bem mais cruel do que a maneira que Baltasar escolheu, que, apesar de morosa, não envolve nem cruzes, nem coroas de espinhos... Se já assim o pobre Baltasar é fustigado pela opinião pública da maneira que é, queria ver se ele decidisse crucificar a menina Esmeralda... Era crucificado...

terça-feira, 13 de maio de 2008

Revolta




Se há coisa que eu abomino é hipocrisia. Ou se é má pessoa ou não se é. Não vamos estar aí com rodeios e fingir-nos boas pessoas para, depois, essencialmente sermos uns crápulas. Se isto for feito conscientemente, admito que até possa ter piada. Como jogo psicológico, como um meio para atingir um fim... Por isso, o que me irrita mesmo são aqueles crápulas que acham mesmo, do fundo do coração, que são boas pessoas. Mas no fundo são maus como as cobras: são uns hipócritas! Vivemos numa sociedade em que existem dois tipos de pessoas. Há os que, como eu, são assumidamente más pessoas (somos uma minoria, caros leitores) e há os que acham que são boas pessoas, os hipócritas, que fazem tudo para pensarem que são boas pessoas e que são do mais asqueroso que se pode ser.
Onde é que eu quero chegar? Ouve-se falar muito dos direitos dos animais. “Coitadinhos dos animais para aqui, coitadinhos dos animais para ali, não os vamos comer, vamos tratá-los como se fossem pessoas, porque eles têm sentimentos…”. Basta! Sim, senhor que os animais têm direitos, nomeadamente o de irem parar ao tacho, mas como é possível defender que se pare de fazer mal aos animais quando se substitui essas supostas atrocidades por outras ainda maiores?
Sim, esses hipócritas que andam para aí a dizer não às roupas de pele e ao foie gras são os mesmos que se banqueteiam com quantidades monstruosas de soja. Aí estão eles, todos lambuzados, com aquelas mãos sujas com sangue de soja a defender os animaizinhos. E a soja? Ninguém pensa na soja? Ninguém pensa nas condições em que a soja é transportada, por exemplo? Sem luz, sem espaço, sem miminhos, uma temperatura insuportável! Quando bebem o vosso leitinho de soja não pensam naquilo que ela teve que sofrer ao ser espremida a sangue frio? Quando barram as vossas tostinhas integrais com paté de soja não pensam, por um momento que seja, em todas as etapas por que este vegetal passou até chegar ao vosso frigorífico cheio de suminho de soja, bife de soja e, espantemo-nos, chocolate de soja?
O que fazem aos animais é uma atrocidade. Atrevo-me mesmo a dizer que, em alguns casos, é um genocídio (tenho a certeza que, hoje em dia é mais impressionante entrar num aviário do que em Auschwitz em 1944), mas não substituam uma atrocidade por outra… A soja não tem culpa nenhuma e caminhamos progressivamente para um ponto em que toda a nossa alimentação vai ser à base de soja... Só de pensar nisto até me dá vontade de chorar… Somos uns predadores e sempre fomos, não é por passarmos a comer soja que vamos deixar de ser. Antes pelo contrário! Passamos de predadores de outras espécies para predadores de soja... Façam a vossa escolha... Para predadores de soja! Já viram isto? Acho que mais baixo não poderíamos chegar...
Se, tal como eu, estão revoltados com isto juntem-se a mim na Liga Protectora da Soja. Para entrar só têm que me dar 50 000 € e pedir a 10 amigos vossos que paguem, igualmente 50 000 €. Sendo que cada um dos vossos amigos terá que arranjar mais 10 e por aí fora. Só assim conseguiremos salvar a soja, que tanto precisa de nós! Chamei-lhe operação Pirâmide! São pequenos gestos que fazem toda a diferença.


Já que estou numa de me revoltar aqui vai mais uma. De certeza que já ouviram falar da campanha do Pirilampo Mágico. Como é possível que não tenham ouvido falar? Já existe há 21 anos… Há 21 anos! Perceberam isto? Será que os nossos deficientes não aprendem? É aceitável passar 18 anos a fazer bolas de cotão colorido com olhos e com um rastilho ridículo, que nem dá luz nem faz o pirilampo rebentar… É normal, coitadinhos dos deficientes, com as suas limitações não seria de esperar muito mais… A partir de 18 anos começa a roçar o absurdo… Já tinham mais do que tempo de ter pensado numa coisa melhor, mesmo sendo lentinhos!
Todos os anos é a mesma coisa, lá vou eu comprar uma bola de pelo com olhos para ajudar os deficientes. Já tenho 20 no tablier do carro, o que é tão bonito que é inevitável que compre mais um… No entanto, o nosso carro já não tem espaço no tablier para tanto pirilampo e se um pirilampozinho pode parecer inofensivo, 21 pirilampozinhos dão tanta luz que é inevitável que acabemos por ter um acidente provocado por encandeamento. É que, como devem saber, os pirilampos dão luz! E lá vamos nós juntar-nos ao clube daqueles que fazem pirilampos mágicos, porque fomos encandeados pela merda dos 21 pirilampozinhos (pergunto-me se tudo isto não será uma conspiração para aumentar significativamente a mão-de-obra dos Pirilampos Mágicos… Qual seria o tarado que teria uma ideia destas? Fica a pergunta: que outra pessoa, para além de mim, se lembraria desta merda?). Ainda por cima aquilo nem é um pirilampo, nem , tão pouco, é mágico! Se aquilo fosse mágico o que é que vocês ainda estão a fazer com a vossa deficiência mental?
Ao menos, podiam tentar outra coisa! Em vez de uma bola de pelo com olhos, podiam fazer uma bola de pelos com olhos… e com nariz! Deixava de ser um pirilampo para passar a ser uma coisa igualmente parva mas diferente. Talvez um limpa-chaminés mágico... Se uma bola com pelos e com olhos passa por pirilampo, uma bola com pelos e com nariz passa bem por limpa-chaminés mágico... E se optarem por isto dos limpa-chaminés, escusam de se preocupar com as corzinhas porque, como um limpa-chaminés anda sempre cheio de fuligem, podiam ser todos pretos e o rastilho seria uma espécie de uma lâmpada de mineiro que eles utilizam para verem melhor na chaminé... Perceberam ou querem um desenho?
Meus amigos especiais, perante tanta falta de criatividade só vos pergunto uma coisa: é para isto que andamos a juntar as nossas tampas das garrafas de água? Façam por merecê-lo! Tenho dito.


PS: A primeira vez que publiquei os dois últimos posts, estes estavam cheios de erros... Como era 13 de Maio acredito que houvesse uma espécie de intervenção divina para me impedir de publicar isto. Percebo e só tenho que me aguentar à bronca... Peço imensa desculpa...

Aviso

Escrevo esta nota para justificar o post que está em cima. Toquei neste blog num tema que nunca tinha tocado e que é passível de incomodar muita gente (inclusivamente eu próprio): a deficiência.
Não há nada de engraçado na deficiência, nem nada que dê vontade de rir, antes pelo contrário...
Steve Merchant e Ricky Gervais que na sua série Extras (e mesmo em The Office) abordaram este tema, justificaram-se deste modo: disseram eles que não estavam a gozar com a deficiência, que é algo que não tem piada nenhuma, estavam a gozar connosco, com o embaraço de pessoas supostamente normais, com a sua dificuldade em lidar com estas questões e com a sua tendência de, muitas vezes, acabarem por vitimizá-los (o que, na minha opinião, é bem pior do que qualquer graçola). Isso sim, tem piada... A nossa estupidez tem piada. Um tipo de piada melancólica, característica da obra de Gervais e Merchant, mas ainda assim hilariante... Acho que é este tipo de humor que nos ajuda a abrir mentes, a lidar com os nossos medos e com as nossas próprias fraquezas... Ao fim ao cabo, a torna-nos pessoas melhores e, neste caso em particular, a tratar as pessoas com deficiência com a dignidade que merecem.
Sinto-me atingido por este tipo de humor porque sou um desses ditos "normais", já que o que escrevi incomodou-me tanto que senti necessidade de me justificar... Se ao menos fosse da Opus Dei teria resolvido o assunto com umas vergastadas nas costas mas, infelizmente, não sou...
É de louvar o sentido de humor de pessoas como o génio Stephen Hawking que não tem problemas em brincar com a sua própria situação, dando-nos a todos nós uma lição de moral e uma bofetada de luva branca por o vitimizarmos a ele e a todos os que, como ele estão numa condição que lhes impede de ter uma vida dita "normal, o que, jamais, deve ser impeditivo de serem tratados como qualquer um de nós. Pessoas assim são, sem dúvida e sem qualquer tipo de paternalismo, especiais!
Perdoem-me o moralismo mas não podia deixar de fazer este apontamento...

sábado, 10 de maio de 2008

A incrível saga de Celestino das moedas


O Celestino tinha uma loja da qual era único cliente. Todos os dias se levantava às 7 e 30 para trabalhar e procurava estar sempre bem arranjado e bem disposto para a sua clientela.

O Celestino vendia toda uma variedade de produtos que podem ser catalogados numa categoria: moedas de 5 cêntimos. O cliente chegava à loja com uma moeda de 5 cêntimos e comprava outra moeda de 5 cêntimos, quantas mais moedas de 5 cêntimos tivesse mais moedas de 5 cêntimos poderia comprar. Seguidamente Celestino vendia as moedas de 5 cêntimos que recebia a outra loja especializada em moedas de 5 cêntimos da qual também era proprietário. Tendo em conta o seu negócio seria de esperar que Celestino fosse o maior coleccionador de moedas de 5 cêntimos do Mundo, mas apenas possuía 3. A que ia usar como cliente, a que vendia na primeira loja e a que vendia na segunda loja.

O negócio corria-lhe de feição e já pensava num franchising, abrir mais meia dúzia de lojas até concretizar o seu objectivo de ter uma loja em cada capital de Distrito, incluindo Bragança. A sua utopia era chegar, um dia, às Honduras, o sítio no Mundo onde há uma maior procura de moedas de 5 cêntimos. No entanto, estragaram-lhe o esquema. Alguém abriu uma loja de 10 cêntimos. O coração de Celestino ficou destroçado, pela infelicidade de o seu negócio estar em risco e por um enfarte do miocárdio que o obrigou a 3 meses de internamento.

De facto, a loja de 10 cêntimos roubou toda a clientela de Celestino visto que esta não só trocava moedas de 10 cêntimos (mais douradas, vistosas e saborosas quando acompanhadas de um bom vinho tinto) como trocava moedas de 5 cêntimos, desde que juntas somassem os 10 cêntimos necessários para a loja aceitar fazer o negócio com o cliente em questão.

- Mas o que vou fazer agora? A minha vida está destroçada e está um péssimo tempo para a prática do Windsurf… - disse Celestino ao seu cão Jovalocskymsklov, que apesar de não ter respondido, deu a entender através do seu olhar e da sua irónica gargalhada que, para ele, o sentido metafísico da questão anulava toda as hipóteses viáveis de executar devidamente um salto mortal encarpado de uma falésia na praia de Peniche.

Celestino lembrou-se então que poderia processar o dono da loja de 10 cêntimos por se ter aproveitado de uma ideia que era sua, sem sequer se ter dado ao trabalho de lhe oferecer uma singela pancadinha no rabo. Recorreu então a um advogado, de seu nome Leonel Rascolnicão, que era conhecido por usar peruca em tribunal, por ter mandado um coice a um juiz quando este lhe pediu para, por favor, parar de lhe chupar o dedo grande do pé e por beber mais absinto que Fernando Pessoa nos seus dias bons. Dirigiu-se ao seu escritório que ficava logo ao dobrar da esquina, o que, devido a esta ainda não estar dobrada, lhe demorou cerca de 10 horas a fazer com a ajuda de 10 elefantes de carga.

Ao entrar no escritório de Leonel Rascolnicão, Celestino ficou agradavelmente surpreendido com a arrumação deste visto que tudo o que eram papéis e processos estavam organizados apenas numa única pilha, o que fazia com que apresentasse ligeiras semelhanças com o Empire State Building num dia de tempestade. No entanto, ao bater a porta Celestino fez ruir toda aquela pilha de documentos, o que levou a que tivessem que ser desencarcerados por cinco corporações de bombeiros voluntários de terras começadas pela letra V.

Foi só depois do desencarceramento e de 5 semanas de recobro num Spa de luxo em Estarreja que Celestino finalmente conseguiu reunir-se com o seu advogado.

- Boa tarde, senhor Dr.! – cumprimentou Celestino o seu advogado antes de levar com um ferro de engomar ligado no meio da cara.

- Isto é por ter derrubado a minha pilha de documentos! Agora vou ter que recomeçar tudo de novo, são 15 anos de trabalho!

- Sim, senhor. É merecido… - disse Celestino em falsete enquanto descolava o ferro da sua cara que parecia estar a derreter-se como cera de uma vela.

- Diga então o que é que o traz aqui, minha querida. – perguntou o advogado num tom mais simpático, sorrindo face aos esforços de Celestino que procurava retirar o ferro da sua cara sem danificar demasiado os seus belos e volumosos lábios.

- Eu queria processar uma loja…

- A IKEA? Esses bandidos venderam-me um armário de 20 euros e, neste momento, o orçamento da empresa de construção civil que contratei para o montarem já derrapou para os 100 milhões de euros! É uma vergonha, até porque queria construir um aeroporto no meu quintal e já não o vou poder fazer, vou ter que me limitar ao TGV entre a porta da minha cozinha e a latrina.

- Compreendo perfeitamente mas para já não quero processar a IKEA, quero processar a loja dos 10 cêntimos… não sei se ouviu falar…

- Claro que sim… Fiz lá um óptimo negócio no outro dia em que com 3 moedas de 2 cêntimos e 4 moedas de 1 cêntimo consegui uma moeda de 10 cêntimos… Fui todo contente para casa e obriguei a minha mulher a matar um cabrito para cozinhar ao jantar! Não é todos os dias que se fazem negócios destes! Pena foi que afinal aquilo não era um cabrito e levei uma carga de porrada de uma idosa, que era dona do caniche e que me deixou com este defeito na fala, que me impede de pronunciar correctamente o “h” mudo. Mas quer processá-los porquê?

- Porque roubaram-me a ideia.

- Isto está ganho, só tem que se deslocar à polícia para confessar o homicídio daquelas duas prostitutas e respectivas ovelhas em Ermesinde no ano passado…

- Mas eu nunca estive em Ermesinde…

- Não faz mal… É imprescindível fazê-lo se quiser ganhar o caso… As autoridades são muito mais tolerantes para quem confessa os crimes… Depois disso a questão da loja está no papo…

- OK! Sendo assim, vou fazê-lo… Sabe que tipo de pijama é que é mais aconselhável na prisão?

- Os meus clientes costumam preferir de flanela, mas não se esqueça da abertura para o rabo…

- Claro que não!

E foi assim que Celestino foi parar à prisão, onde tem um legítimo negócio de troca de peúgas, do qual é o único cliente…

Basta! Não me apetece continuar mais este disparate! Se quiserem continuem a saga de Celestino das moedas… Eu desisto!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Carta aberta aos leitores

Caros leitores,

Este blog ainda está a começar e, por isso, ainda sinto algumas dificuldades em definir o tipo de conteúdos que vou colocando aqui. Basicamente, até aqui, o meu critério é escrever aquilo que me apetece e as primeiras coisas que me vêm à cabeça, sem nenhuma estrutura definida e sem objectivo nenhum em concreto.
Agora que o blog já existe há algum tempo, já é possível conhecer o tipo de leitores que os conteúdos deste blog atraem. Cheguei à conclusão que o perfil do leitor do Corta-unhas melancólico é um facínora que gosta de manicure. Pois é, é muito provável que você, que está a ler isto seja um facínora com queda para a manicure (o que, permitam-me acrescentar, é uma combinação divinal)! O que me deixa muito orgulhoso por poder ajudar toda a comunidade malfeitora do país, que é uma comunidade que muito admiro e à qual pertenço desde que electrocutei o gato da minha vizinha, quando tinha 4 anos...
Como é que eu cheguei a esta conclusão? Através do Google Analytics qual foi a pesquisa efectuada pelas pessoas que aqui chegaram através de um motor de busca.
Houve uma pessoa que chegou a este blog a partir da pesquisa "não olhar a meios para atingir os nossos fins". Apesar de nunca ter escrito nada sobre este tema, o acto de não olhar a meios para atingir os fins sempre foi algo que me fascinou! É com muito prazer que vos tento ajudar a não olhar a meios para atingir os fins. Há muitas maneiras de o fazer, uma delas é não olhar a meios, outra delas é pensar apenas nos fins... Assim garanto-vos que eliminam todos os obstáculos que vos impedem de conseguirem o que querem, basta não pensarem neles ou, então, só pensarem nos fins... Ou as duas alternativas...
Outra pessoa chegou até aqui através da pesquisa "como uma pessoa pode fazer tanto mal a outra". Meu caro leitor, pode dizer-se que eu sou um especialista nesta área. Já tenho assistido a inúmeras conferências e, eu próprio já fui convidado a reger uma cadeira sobre este tema na Universidade do Miskatonic... Não me vou alongar muito sobre como se pode fazer mal a outras pessoas, visto que não há limites para as crueldades a que podemos submeter os outros. Por muito mal que achemos que estamos a fazer a alguém, há sempre uma coisa pior. Não há nenhuma biblioteca no Mundo que consiga armazenar toda a informação sobre como fazer mal aos outros e, não cabe a este blog assumir para si essa ingrata e utópica missão. No entanto, podem contar com uma dica ou outra de vez em quando. Por exemplo, no caso da Áustria, berço do nazismo, país extremamente desenvolvido no que toca a submeter pessoas ao mal e em que 75% das famílias têm uma cave com uma pessoa sequestrada, quando nós achávamos que o tipo que raptou a Natascha Kampusch atingiu um lugar de topo na galeria das coisas mais cruéis que se podem fazer a alguém, aparece sempre um indíviduo que fechou a filha numa cave durante 20 e tal anos, durante os quais criou uma ninhada de filhotes, quais cocktails de consanguinidade, provando-nos que não há limites para o mal! É esta a beleza do mal! Com alguma criatividade e uma total falta de escrúpulos o céu é o limite!
Houve ainda outra pessoa que chegou aqui através da pesquisa "ipo voluntariado blog"... Como não me parece que tenha alguma informação sobre este tema, só posso imaginar o que é que este abutre queria ir fazer ao IPO e por muito que imagine há sempre algo pior... Inscrever-se como voluntário para depois... Nem quero pensar nisso... Belos facínoras que este blog atrai...
Há também uma pesquisa que me permite adicionar ao perfil de malfeitor um certo gosto pela manicure visto que alguém chegou aqui através da pesquisa "como começar a fazer unhas". Não sei responder a esta questão mas prometo que vou tentar informar-me melhor sobre vernizes, manicure e técnicas de tortura envolvendo unhas para ir de encontro às preferências dos meus caros leitores!
Para já é tudo... Continuem a praticar o mal!


PS: Agora uma palavra mais séria, talvez motivada pelos remorsos de ter escrito estes disparates todos: houve mesmo pessoas a chegarem aqui através destas pesquisas! No entanto, não acho que vocês sejam todos facínoras, aliás a maioria de vocês até são pessoas espectaculares! O melhor público que já tive até hoje! Bem, acho que já me redimi de vos ter chamado facínoras...

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Morte académica


Ao criar o estatuto de estudante a tempo parcial o Governo finalmente regulamenta uma situação que já era mais que comum nas nossas Universidades. Desde há muito tempo que os estudantes eram obrigados a conciliar o seu papel de estudante propriamente dito com o papel de alcoólicos, de praticantes de pandeireta acrobática (modalidade que só se pode praticar com a devida dose de álcool), de mestres de tortura psicológica a jovens imberbes que acabaram de entrar na Universidade… Pouco tempo sobra para estudar, daí que esta medida deva ser veementemente aplaudida! (depreendo que esta medida do Governo tenha a ver com isso é que, como é óbvio, não li a notícia… é que eu não sei ler nem escrever… Só estou no 5.º ano do Ensino Superior… estes posts são ditados por mim ao meu estropiado e repulsivo servo Vladimiro, a quem faltam as duas mãos e um olho e que tem apenas dois dentes… “como é que o Vladimiro escreve sem mãos?” perguntam vocês. Usa o seu nariz… o que é um espectáculo bonito de se ver… no Natal o Vladimiro também desenha postais, que vocês, como pessoas solidárias e altruístas que são vão comprar… Não há nada mais comovente do que ver um aleijadinho como o Vladimiro dar assim a volta por cima e fazer autênticas obras de arte. Nada me deixa mais feliz! Foi com o dinheiro dos postais que eu construí a minha marquise no ano passado… Este ano preciso de uma alcatifa nova por isso toca a comprar!).

Já que estou a falar sobre Ensino Superior aproveito para sair um pouco do tom normal deste blog e falar um pouco sobre a minha experiência pessoal. Como meus fiéis e assíduos leitores merecem saber que eu estou a morrer… É verdade! Como todas as vidas, também a vida académica tem um fim e, neste momento, estou a dar os meus últimos suspiros. A minha morte académica aproxima-se a passos largos.

E, ao contrário da morte propriamente dita, aquela em que vamos finalmente reencontrar-nos com o Criador ou, se formos ateus, em que vamos servir de banquete a larvas e vermes subterrâneos, a morte académica não é um momento de tristeza: não se faz um funeral, ninguém fica propriamente triste, apenas nostálgico… A morte académica celebra-se e celebra-se efusivamente… Para além do último ano ser, já de si, diferente a Semana da Queima das Fitas é o auge da celebração da nossa morte académica. E eu, como moribundo, estou muito nostálgico… Sinto toda a minha vida académica a passar-me pelos olhos. O cliché de quem esteve entre a vida e a morte... Até faz sentido! Não quero morrer!

Não é por querer que a minha vida académica se prolongue, nem pensar nisso! A esperança média de vida académica é de cerca de 5 anos, sendo que é aceitável que alguém demore mais algum tempo. No entanto, é inevitável cruzarmo-nos com indivíduos bastante idosos em termos académicos, que eternizam a sua vida de estudante, acabando por, muitas vezes, ser colegas dos seus próprios filhos… Por isso, quando digo que não estou a gostar nada da minha morte académica, não estou a dizer que gostaria que ela durasse mais um ou dois anos ou três ou vinte. Não! Não quero nem mais um ano de vida académica! Porque acho que só conseguiria desfrutar da minha vida académica enquanto ela faz sentido. Ou seja, quando as coisas seguem o seu ciclo natural e vivemos todas as fases de uma maneira saudável. Neste momento, só tenho que aceitar que estou a morrer e, como toda a gente, vou festejar… Isto implica andar a levar marretadas na cabeça com uma bengala, beber, escrever dedicatórias em fitas como se estivesse numa linha de montagem, beber… Acho que se me eternizasse como estudante as coisas perderiam toda a piada e cairia no ridículo… Tal como não brinco com carrinhos não faria muito sentido estar, daqui a 20 anos, armado em estudante universitário… Cada coisa no seu tempo… E novos tempos estão a chegar… É inevitável que olhe para trás com nostalgia da mesma maneira que olho para a frente com uma grande expectativa! Se as coisas fossem eternas não seriam tão boas (nem tão más) como são. Acho que nem sequer seriam. Qualquer tentativa para nos eternizarmos onde quer que seja, para além de fortuita, será completamente frustrante!

P.S. Para quem só chegou agora a este blog, este não é o tipo de posts mais representativo… Os posts abaixo serão uma melhor ajuda para perceberem se querem adicionar ou não este blog aos favoritos. Este post serve também para justificar uma não tão frequente actualização na próxima semana… É a minha última queima, tenho que saborear a minha última refeição!

Para os meus leitores na China, imagino que não percebam bem o que é a nossa tradição académica. Podem colocar as vossas dúvidas na caixa de comentários e terei todo o prazer em respondê-las. Não se inibam até porque acho que iriam gostar muito da nossa tradição académica. Para vos aguçar o apetite posso dizer-vos que ela envolve humilhação, alienação do indivíduo enquanto ser único, palavras de ordem, confrontos…