sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Vamos odiar um bocadinho...


Ontem, ao abrir a revista Sábado, fiquei estupefacto. É que, precisamente no momento em que estava a abrir a revista um corcunda dirigiu-se a mim e, com a maior das educações, diz-me:

- Meu caro amigo, pediram-me para lhe informar que, ao contrário daquilo que julgava, as idiossincrasias características de cada um de nós não são mais do que uma maneira paradoxal de, através da diferença, nos tornarmos ainda mais semelhantes.

- Pois claro, meu cavalheiro. - acedi eu antes de lhe dar um valente pontapé naquela zona que está entre a coluna vertebral e a omoplata direita que, diga-se de passagem, é extremamente difícil de identificar num marreco. É assim que eu costumo tratar os deficientes físicos que me abordam na rua com comentários sem sentido. Algo normal no meu dia-a-dia mas que não deixa de me causar uma certa estupefacção. Por mais que tente não me consigo habituar.

Continuei a actividade que estava a desempenhar no momento em que fui abordado pelo corcunda e acabei de abrir a revista Sábado. E li uma frase ainda mais imbecil do que aquela que havia sido proferida pelo já referido transeunte com um problemazito nas costas. A frase era de Margarida Rebelo Pinto o que, só por si, nos permite antever algo de realmente estúpido. No entanto não poderia deixar de partilhar convosco o nobre pensamento desta ilustre criadora de calços para móveis.

Vocês podem dizer que eu estou a ser demasiado severo com a senhora, que não é assim que se tratam as pessoas especiais e que, apesar de tudo ela tem contribuído muito para a felicidade de muita gente, nomeadamente de pessoas cujo mobiliário necessite de calços. Eu concordo e, em situações normais, limitar-me-ia a ir visitá-la ao jardim zoológico, como faço todos os anos no 3.º domingo de Fevereiro. No entanto, uma pessoa que me faz uma declaração de ódio do calibre que ela me fez só merece ser tratada assim. Acabaram-se os amendoins, Margarida!

Ela disse, então, o seguinte:

"Sou snobe e elitista. É endémico, instintivo e mais forte do que eu. Detesto aquelas pessoas que dizem "vermelho" e "bom apetite". Sou snobe, não queque. Também não sou dondoca. Escrevo todos os dias das 8h às 12h"

Não percebi exactamente o que ela quis dizer com isto e não faço a mínima ideia do que é "dondoca" nem o que é que isso tem a ver com o facto de ela ter um extenuante dia de trabalho de 4 horas. Aquilo que eu retirei desta brilhante citação é que ela detesta pessoas que dizem "vermelho" e "bom apetite". E aí, Margarida, pisaste o risco. Lamento dizer-te mas meteste-te com as pessoas erradas. Somos muitos, os que temos esse incómodo e subversivo hábito de usar a palavra "vermelho" e a expressão "bom apetite" e sei que falo por todos quando digo: "estás bem tramada!". Já sabia que incomodávamos muita gente com esta atitude mas não merecíamos esta declaração de guerra. Principalmente da pessoa que inventou esse "Ser poeta é ser mais alto" da literatura para tias: a expressão "cabelinho à foda-se" (pior do que uma pessoa que tenha cabelinho à foda-se, só mesmo a expressão "cabelinho à foda-se").

Quando alguém me pergunta, para testar a minha cultura benfiquista, qual é a cor do Benfica eu respondo com orgulho e convicção: "Vermelho!". Normalmente, a única reacção que obtenho quando digo isto é um "Muito bem, acertaste" ou, no programa de televisão certo, 10.000 €. Só que se tivesse esta ousadia à frente da Margarida Rebelo Pinto era muito provável que levasse com um salto agulha no topo da cabeça e um balázio no meio dos olhos.

Apesar de não usar muito a expressão "Bom apetite!", já que habitualmente desejo que as pessoas tenham uma crise de refluxo gástrico depois das refeições, estou solidário com esta malta. Já me disseram muitas vezes "bom apetite", nomeadamente em restaurantes e, com excepção daquele indivíduo que me desejou bom apetite com cara de quem parecia que me estava a desejar uma bela diarreia, nunca reagi mal. Antes pelo contrário... No entanto, que nenhum destes pobres seres se atreva sequer a lançar semelhante impropério à Margarida Rebelo Pinto... Nem quero imaginar a cena... Saltos agulha a perfurar olhos e foie gras no ar... E isto é só um preliminar...

Margarida, podes não concordar, mas também somos seres humanos. Não, nem todos temos vidas tão interessantes como as personagens que retratas nos teus livros. Eu, por exemplo, por mais que tente, e Deus sabe que tenho tentado, nunca hei-de ser uma divorciada. Não, nem todos passamos nas nossas vidas por episódios tão espectaculares que mereçam ser plagiados de uns livros para os outros. Mas, unidos, lutaremos contra esse flagelo que tu personificas. Por mais que nos tentem impedir diremos sempre "vermelho", até ficares "vermelha de raiva". Desejaremos sempre "bom apetite" nem que, para isso, tenhamos que escrever um livro intitulado "bom apetite", que, ainda assim, será um título bem melhor do que "Sei lá" ou "Português Suave" (porque não SG Ventil, Margarida? O catarro é o mesmo...). É óbvio que não provocará situações hilárias como aquelas que pretendeste egendrar quando chamaste ao teu livro "Sei lá". Esta situação...

- Como é que se chama o teu livro, Zé?
- Ensaio Sobre a Cegueira.

...nunca será tão hilariante como esta situação:

- Como é que se chama o teu livro, Margarida?
- Sei lá.

- A sério, como é que se chama o teu livro?

- Sei lá.

- Lá estás tu com as tuas coisas. Como se não bastasse passares o dia a babar-te à janela e a insultar os transeuntes... Vai mas é trabalhar!

Um tanto ou quanto infantil mas hilariante...

Pois, Margarida, cuidado com as guerras que crias... Nem imaginas aquilo que uma pessoa que diz "vermelho" é capaz de fazer...

Umas horas mais tarde olhei para a capa da Visão e percebi a frase da Margarida Rebelo Pinto. O tema da reportagem era "Sobreviver a um AVC". E quem estava na capa? A pobre Margarida, que teve um AVC aos 41 anos... Deve ter deixado sequelas...

P. S. Agora a sério, eu nunca li a Paula Bobone e não percebo mesmo qual é o mal de dizer "vermelho" ou "bom apetite"... Serão o "caralho" ou o "foda-se" da nova geração? Alguém me explica?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Sobre a homossexualidade na extrema-direita e algumas premissas para musicais de La Féria...





Quando olhava para os Village People achava sempre que faltava lá qualquer coisa. E muitas vezes olhei para eles, caros amigos... Quer como artistas, quer como exemplos para a vida... O índio dos Village People foi, desde cedo, o meu role model e é a minha segunda figura paterna (a primeira é, obviamente, o Carlos Castro). No entanto, sempre achei que faltava qualquer coisa. Um índio, um polícia, um motoqueiro, um cowboy, um militar, um operário da construção civil... Um grupo inquestionavelmente completo e harmonioso mas, na minha cabeça, longe da perfeição... Faltava-lhes uma pequena coisa para serem o tecto da Capela Sistina do disco sound. E ontem eu descobri... Depois de saber que Jorg Haider era o Sugar Daddy do seu delfim no BZOe (partido de extrema-direita austríaco do qual Haider era líder) eu descobri o que é que faltava nos Village People: um elemento das SS.

A história de Haider é enternecedora. E não, não estou a falar daquela parte em que ele se despistou a 140 km/h. Estou a falar do romance proibido do qual foi protagonista, uma espécie de Romeu e Julieta ou, nesta caso, Romeu e Júlio, passado no mais improvável dos cenários: os meandros da extrema-direita aústriaca.

Melhor mesmo era se Haider, em vez de ter mantido um romance com Stefen Petzner, tivesse mantido um romance com Francisco Louçã. Aí é que o nível de carga dramática do caso upa upa (deixo esta dica ao La Féria para o seu próximo musical... E de graça... Estou disposto a não ganhar nada com ela só para ter oportunidade de assistir a este inusitado musical...).

Mas não se pode ter tudo e, felizmente, a vida não é um musical do La Féria. Quando muito é uma novela da TVI, dada a quantidade de Paulos Pires com que me tenho cruzado ultimamente na rua: é o Paulo Pires brasileiro, o Paulo Pires inglês, o Paulo Pires sabichão, o Paulo Pires pedinte, o Paulo Pires cowboy, o Paulo Pires índio, o Paulo Pires veterano do Ultramar, o Paulo Pires modelo e actor...

No outro dia sonhei com uma pequena aldeia em que todos os habitantes eram Paulos Pires, todos iguais mas cada um com as suas características próprias. Comunicavam num idioma próprio em que todos os substantivos e verbos eram a palavra "Paulo Pires" ("- Ó Paulo Pires Sabichão, paulopira na esponja e anda paulopirar-me o carro!" "- Paulopira um bocado, Paulo Pires Tuning, agora estou a paulopirar um paulopivro policial..."). Tinham ainda um arqui-inimigo que os ia importunar de vez em quando. Arqui-inimigo esse que tinha um gato, cujo alimento preferido era Paulo Pires... Acho que já chega, já devem ter chegado lá. Isto é a aldeia dos estrumpfes (que esta semana fizeram 50 anos) só que em vez de estrumpfes, é habitada por Paulos Pires... Acho que a partir de agora vou escrever este blog em paulopirês. Enfim, outra grande ideia para um musical do La Féria...

E depois desta divagação, que tem lugar assegurado no Top 10 das divagações mais estúpidas em blogs com a palavra corta-unhas no nome, volto ao tema inicial: o romance de Jorg Haider. Este caso, para além de comprovar a minha teoria de que o pessoal de extrema-direita é apenas um grupo de pessoas fofinhas que quer apenas fazer o amor uns com os outros permite-nos fazer uma reflexão nunca antes feita sobre os grupos neonazis.

Primeiro, Haider, confesso admirador de Hitler, ter-se-ia tornado num prisioneiro de Auschwitz se tivesse o azar de ter feito as brincadeiras que fez em 1940. Já dizia o Hitler: "pior do que ser judeu é ser um líder de um partido de extrema-direita que pratica o coito com o seu número 2... Mesmo que esse número 2 seja tão ou mais jeitoso do que o Joseph Goebells... E eu bem sei aquilo que me tenho que esforçar para resistir aos encantos daqueles peitorais e daqueles braços semi-musculados... nem com muito músculo, nem com pouco... nem muito rijos, nem muito flácidos... mesmo no ponto... Com excepção daquele dia na sala de bilhar e daquele fim-de-semana prolongado no chalé das montanhas de Berchtesgaden nunca mais se passou nada...".

Segundo, permite-nos imaginar o que vai na cabeça de um tipo de extrema-direita, o que, até aqui, era impossível dada a profundidade das suas brilhantes mentes... Imaginem um comício:

Discurso de Haider: Os valores da família para aqui... A segurança dos austríacos para acolá... E os imigrantes não sei quê, não sei que mais...

Pensamento de Haider: Hmmm... aquele rapazinho ali da primeira fila é bem jeitoso... E aquele ar conservador... São os piores... Será que ele aceitará ir tomar um copo comigo amanhã? Sheisse! Amanhã não posso, já combinei ir fazer sauna com aquele imigrante ilegal argentino... Não passa de hoje, vou convidá-lo para vir comigo à biblioteca fumar um charuto e ler o Mein Kampf... de joelhos... Ai! Que maluca!

Permite-nos também, tirar conclusões acerca da maneira como se sobe nos partidos de extrema-direita. Até hoje sempre achei que os critérios que levavam alguém a progredir nestas organizações eram a média do número de pauladas em Africanos por noite, o estilo saudação romana, o brilho da cabeça, a originalidade das tatuagens... Critérios justos, objectivos e bem enquadrados na filosofia destes grupos... Mas afinal os únicos paus envolvidos neste processo não são usados para bater em africanos.

E com esta piada finalizo esta paulopiresca reflexão. Não vos maço mais com estilos de vida alternativos... A sociedade está a evoluir mas ainda não está preparada para lidar com estas questões... Um homossexual de extrema direita... O que virá a seguir? Um político inteligente? Uma feminista dona de casa? Uma freira a praticar parkour?

P.S. Só queria deixar um pedido de desculpas ao meu pai, que lê este blog... A minha figura paterna não é o Carlos Castro. Era só uma piada...

P. P. S. Depois de ter usado uma imagem de Haider em tronco nu ou de um indíviduo muito parecido com Haider em tronco nu num post acho que já fiz tudo o que havia para fazer na blogosfera...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Contribuinte feliz

Não podia ter começado a trabalhar em melhor altura. É uma óptima sensação sentir que tenho um papel activo no desenvolvimento da nossa sociedade, contribuindo, através do meu trabalho e do pagamento dos meus impostos, para a competitividade do nosso país e, principalmente, para a criação de melhores condições para aqueles que precisam. É por isso que digo que não podia ter começado a trabalhar em melhor altura do que esta que estamos a atravessar. É que agora eu sinto que o dinheiro dos meus impostos vai para quem realmente precisa.

Não sei se vocês, que também trabalham, sentem o mesmo. Mas o êxtase que sinto é tão grande que não cabe dentro de mim. O que leva a que transborde de vez em quando, fazendo-me soltar uns gritos histéricos em alturas não muito apropriadas (como no outro dia em que estava a assistir, empolgado, a uma partida de xadrez), ou levando-me a sentir uma vontade incontrolável de pegar numa cesta e ir apanhar fambroesas. E este êxtase que me atingiu que nem um raio tem um motivo muito claro, como já disse. Saber que o dinheiro dos meus impostos está a ser utilizado em prol da mais nobre das causas: emendar a cagada que os capitalistas andaram a fazer.

Eu tenho um fraco por banqueiros. Nada de homoerótico, nem nada que se pareça (embora ache o Jardim Gonçalves um homem bastante charmoso. E o Champalimaud? Aquilo é que era um homem!). É uma coisa paternal. Acho mesmo fofinho quando eles pegam em dinheiro e emprestam a pessoas que sabem que não o vão pagar. E depois, quando pegam no dinheiro que sabem que não vão receber e o emprestam a outras pessoas que também não vão pagar. Que doçura! E digam lá se também não ficam embevecidos quando os fofinhos dos capitalistas pegam nesse dinheiro inexistente e respectivos juros e o vendem a outros capitalistas igualmente fofinhos que, por sua vez, vão emprestar a quem não lhes vai pagar. Digam lá se isto não é mesmo cutxi-cutxi?

É como aqueles miúdos de 6 anos que nos espatifam o carro. Eles sabem que fizeram asneira e nós não podemos deixar de os recriminar. No entanto, ficamos sempre enternecidos e acabamos sempre por pensar: "este puto é mesmo levado da breca. Ainda vai longe". É por isso que me dá tanto prazer contribuir para ajudar os banqueiros. Eu sei que o que eles fizeram está errado. Vamos ser severos? Sim, senhor! Mas vamos condená-los? Claro que não! Eles não pensam. Devemos castigar o cãozinho que fez cocó no meio da sala? Claro que sim, tem que ser educado para não o repetir. Devemos condená-lo? Claro que não! É a sua natureza. É um animal irracional, que não distingue o bem do mal, o certo do errado, que reage por impulsos.
Com os capitalistas é exactamente a mesma coisa. Alguém que confie plenamente num sistema económico liberal completamente auto-regulado pensa? Eu diria que não... É uma ideia tão absurda que não poderia ter sido pensada por um ser racional. É por isso que é com todo o gosto que contribuo para limpar o seu cocó.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Quem quer vender a alma?


Os reality shows já não são novidade nenhuma, assim como também não é novidade que a Teresa Guilherme seja a figura de proa da introdução de todo o lixo em Portugal (não só o televisivo... acho que 1/3 de todos os resíduos tóxicos, sólidos e líquidos, existentes em Portugal é produzido por ela). Por muito baixo que desçamos, eis que surge a Teresa Guilherme para nos provar que para a baixeza não há limite. Enquanto tivermos a Teresa Guilherme podemos sempre acreditar que pior é sempre possível. Quando ela surgiu com o Big Brother todos achávamos que não há nada mais baixo do que nos deixarmos filmar durante 24 horas por dia e, com isso, expormos a nossa vida e a nossa família para podermos usufruir de uns míseros, fortuitos e decadentes 15 minutos de fama. Minutos esses que nos podem abrir muitas portas como as portas do hospital psiquiátrico ou as portas da prisão. Quando achávamos que o Big Brother era a degradação de todos os valores da nossa sociedade eis que surge a Teresa Guilherme para nos provar que o Big Brother é uma simples festinha na cabeça quando comparado com o pontapé no escroto que estamos prestes a levar.

O "Momento da verdade" apanhou os portugueses de surpresa. Principalmente os clientes daquele merceeiro que admitiu que os roubava e a sua mulher, que jamais pensaria que iria expor a violência doméstica de que é vítima em directo na TV.

Confesso que fiquei extremamente revoltado. Ver alguém a admitir na televisão que bate na mulher é degradante... Se há algo que não se deve expor é a violência doméstica. É algo para ser usufruído no conforto e na privacidade do lar e para ser disfarçado com óculos de sol e falsos sorrisos… Admitir publicamente a violência doméstica é um atentado a uma das mais enraizadas e fortes tradições do nosso país. A violência doméstica é uma instituição. Uma instituição só equiparável ao próprio casamento. Tão equiparável quanto, na maior parte das vezes, indissociável. Creio que é à violência doméstica que os opositores do casamento de pessoas do mesmo sexo se referem quando dizem que a legalização do mesmo vem prejudicar a "instituição" casamento. De facto, violência doméstica entre pessoas do mesmo sexo não tem assim tanta piada. Um dos pontos fortes que os defensores desta referem e que deixa de existir nos casos do casamento entre pessoas do mesmo sexo é aquela questão da subjugação do mais fraco pelo mais forte. Como uma encenação da selecção natural de Darwin debaixo do nosso tecto. Pôr duas pessoas do mesmo sexo à porrada iria ser como uma rixa num bar ou uma briga de miúdas.

É por isso que oferecer dinheiro ao tradicional homem português para ele admitir que bate na mulher é descer muito baixo. E obrigá-lo a admitir isto depois de ter assumir que por 250.000 € era capaz de ter uma relação homossexual é ainda mais baixo. É um paradoxo. Então um homem tão machão, tão tipicamente português, que seduz as mulheres dos amigos, que aldraba os clientes e que anda com rolos de dinheiro no bolso era capaz de ter uma relação homossexual? É destruir um mito, destruir um mito essencial para a nossa identidade como portugueses. Nestes tempos de crise, em que estamos a milhas de distância de outros países da Europa, põem o típico português a admitir que era capaz de se prostituir com outro homem? Nestes tempos em que a única coisa a que nos podemos agarrar para sentir alguma esperança no nosso futuro e para melhorarmos a nossa auto-estima em relação aos maricas dos nossos parceiros europeus é a convicção de que, apesar de estarmos na merda, somos uns machões, vêm dizer-nos que isso é um mito? Vêem dizer-nos que só batemos na mulher porque somos uns frustrados que queríamos era ser pagos para estar com homens? Vêm dizer-nos que temos a nossa sexualidade reprimida por uma sociedade conservadora e com os seus valores distorcidos? Vêm dizer-nos que somos tão cobardes e submissos no dia-a-dia que temos que descarregar em quem é, supostamente, mais fraco?

Por favor, não destruam esse mito!

P.S. Agora um bocadinho mais a sério... É assustador haver uma empresa que pague dinheiro a alguém para revelar todos os seus sórdidos segredos... É assustador alguém revelar os seus sórdidos segredos para ganhar meia dúzia de tostões... É assustador alguém acreditar que isso vai dar audiências... É assustador isso ter audiências...
Não quero ser moralista, nem tão pouco defender a censura. Acredito plenamente na liberdade de expressão. No entanto, sinto arrepios só de pensar no conceito do Momento da Verdade. Sinto arrepios quando vejo alguém disposto a tudo para ganhar dinheiro. Senti arrepios quando me disseram que alguém foi à televisão admitir que tinha sexo desprotegido com dezenas de mulheres à frente da mulher que supostamente ama e de quem tem uma filha (Um homem que tem tantos tomates que até se dispõe a dizer isso na televisão não tinha tomates para ter sido honesto com a mulher antes de ter destruído a sua vida? ). Senti arrepios quando vi um homem a admitir que batia na mulher. Porque é que não pegam no dinheiro que dariam a um homem que admite em público que bate na mulher (como que a premiar a sua honestidade/brutalidade) e financiam a luta contra este abominável crime? Não sei se é só de mim mas custa-me muito ver alguém ganhar dinheiro por admitir que bate na mulher. Numa situação normal esse indivíduo deveria ser condenado, não recompensado...
Nunca vi nada tão decadente como isto e acho incrível ver as pessoas a aceitarem tão passiva e pacificamente este programa. Longe de mim pensar que se pudessem organizar protestos ou revoluções, mas contava, pelo menos, que o boicotassem.