quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A problemática dos restaurantes com problemas de exaustão


O amor é como um restaurante com problemas de exaustão. Quando saímos, temos um cheiro a fritos de tal maneira intenso e de tal maneira entranhado que, tão cedo, não conseguimos esquecer que estivemos no dito restaurante. É a sua maneira de nos lembrar que estivemos lá.

Quando isso acontece, ao menos que a refeição tenha sido barata...

(eu digo isto porque o meu último e único grande amor vendia rissóis para fora. Logo, a minha percepção sobre o que é o amor está indissociavelmente associada ao cheiro a fritos. Bastava aproximar-me a menos de 20 metros dela para ficar marcado com um contundente e gorduroso cheiro a croquetes. Tinha a vantagem de, nessa altura não ter qualquer tipo de preocupação com o meu odor corporal. Por muito mal que cheirasse aquele cheiro a óleo Fula abafava qualquer coisa. Acho que estes hábitos talvez estejam na origem da minha inépcia para encontrar de novo o amor...)

Mas não é sobre o amor que vou falar. Não que o tema não me agrade mas porque neste momento estou mais preocupado com restaurantes com problemas de exaustão.

Só quem sabe o que é o verdadeiro amor percebe esta questão dos restaurantes com problemas de exaustão. Supostamente uma pessoa vai a um restaurante para comer e, eventualmente, passar um bom momento com amigos enquanto desfruta do melhor (ou do pior) que o mundo da gastronomia tem para nos oferecer. Não é suposto o restaurante acompanhar-nos depois disso. É como se quiséssemos sair do restaurante e ele nos estivesse a dizer: "Não! Volta cá para dentro! Mas o que é que se passou? Não gostas da comida?".

Fazendo com que recordemos constantemente o cheiro das pataniscas que acabámos de devorar quando a última coisa que queremos é voltar a comer pataniscas. Lembrando-nos que para uma coisa boa há sempre o reverso da medalha. À ideia de termos algo que nos faz felizes, surge sempre associada a sua perda. É inevitável! E, mesmo que, imersos em felicidade nos esqueçamos disso, a perda é sempre possível e muito provável. Para uma coisa boa como um bife com batatas fritas está sempre associada uma coisa má como o cheiro a fritos. Vamos deixar de comer bife com batatas fritas? Não. Ou seja, podemos tentar fugir, mas o cheiro a fritos vai acabar sempre por nos apanhar...

E a solução infelizmente não passa por substituir aquele cheiro por outro cheiro. Por exemplo, se tentarmos substituir o cheiro a fritos intenso por outro cheiro igualmente mau e facilmente entranhável na roupa como o cheiro do fumo de tabaco aquilo que acontece não é algo do género "entra um, sai outro". Não. O que acontece é que vamos fundir os dois cheiros criando um aroma igualmente mau... mas a duplicar...

Enfim, apesar de tudo não há nada melhor do que um bom restaurante com problemas de exaustão e com um menu de pratos bem gordurosos... Mesmo com o cheiro...

P.S. O meu último amor não vendia rissóis para fora, nem, tão pouco, cheirava a fritos... Mas o seu cheiro continua bem entranhado...

3 de Novembro

5 comentários:

Tari disse...

Esse odor a fritos entraganhado só piora com outros cheiros, sejam eles quais e quantos forem e até mesmo que cheirem bem. Só depois da roupa lavada uns bons pares de anos é que se torna mais subtil. Até lá tem que se combater o vício do óleo que sabia tão bem...

Anónimo disse...

Percebo esse cheiro na perfeição, por exemplo, durante o fim de semana sinto falta dele, mas basta chegar à faculdade e entre os bons dias do Sr. Zé sempre bem disposto (gostava de ter a formula dele) lá se entranha o odor nos 5 seg que separam o bar da AE.

Abraço

Tari disse...

Houve uma fusão de palavras no meu comentário que tenho que rectificar, referente à palavra "entranhado". Na altura pensei também em impestado e saiu um "entraganhado", podia ter significado como, por exemplo, "ganhou entranhas" mas como não existe, senti-me na obrigação de mudar.
Mais uma vez tenho que concordar com tudo o que disseste e mostraste que sabias sobre os "restaurantes" com problemas de exautão. Aguarda pelo reverso da moeda e pode ser que apareça um exaustor potente vindo do nada ;)

Lu.a disse...

Adorei o 1º parágrafo, com a tua definição de amor! :)) Definitivamente explica o porquê de, de vez em quando, eu ainda sentir o odor a fritos à minha volta mesmo que tenha comido polvo cozido!:/

Woody disse...

tari

Eu percebi a palavra e achei piada! Aguardo por esse exaustor potente :) Até lá, tenho que levar com este ligeiro cheiro a fritos que já quase nem incomoda...

daniel

O melhor do exaustor do Sr. Zé não era o facto de termos que levar com cheiro a ovo estrelado às 9 da manhã. O melhor era mesmo que a pouca exaustão que o homem tinha ia dar directamente ao gabinete de alguns professores... E isso sim, tem piada...

É sempre engraçado imaginar um professor universitário que cheira da mesma maneira que uma qualquer cozinheira...

No entanto, só valorizamos o cheiro do bar do Sr. Zé quando ficamos sem ele... Tenho mesmo muitas saudades!

lu.a

Desde que o polvo cozido não tenha sido indigesto...