segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ler



Achei curiosa esta notícia do público, em que António Lobo Antunes afirma que "os livros em Portugal são indecentemente caros". Tem toda a razão! E é por isso que, quando tenho a oportunidade de ir a outros países, entro em tudo o que é livraria que nem um maluquinho. Pensando bem, não é preciso ir a outros países para entrar em livrarias que nem maluquinho, mas quem viaja comigo sofre um bocado com isso. De resto acho que até consigo ser boa companhia. Mas sou um bocado obssessivo em relação a livros e o pouco que ganho vai, invariavelmente, parar aos cofres da Fnac.

Enfim, ao menos não gasto em droga... Se é que se pode dizer que os livros não são como uma droga...

Achei também piada à declaração de António Lobo Antunes porque, ainda este ano, quando lhe fui pedir um autógrafo na Feira do Livro do Porto (cidade a que ele está muito agradecido, como volta a referir na notícia, por o ter apoiado na sua luta contra o cancro), o "sacana" olhou para o preço do seu próprio livro, que estava prestes a autografar, e disse o seguinte:

- Pagaste 22,5 euros (já não me lembro bem do preço) por isto?!

Ao que eu respondi:

- Vale o preço... - E acrescentei - Acho mesmo que vale, embora não caísse mal se fosse um bocadinho mais barato... Se mo quiser oferecer... - Não disse esta última parte... Ou pelo menos não deve ter sido esta a mensagem que ele entendeu dos grunhidos que soltei, típicos de quando estamos ao pé de alguém que admiramos... E não, não foram berrinhos histéricos... Isso foi mais quando fui ver os Tokyo Hotel... É mentira! Apanhei-vos!).

Acho que os livros são a melhor companhia não-humana que se pode ter. Adoro aquela sensação melancólica, de quando estou a acabar um livro. Ter, por um lado, pena de o estar a acabar e por outro lado aquela curiosidade de conhecer o final. Sinto também uma certa ansiedade em relação ao livro que se segue: "que livro vou começar a ler? (e a lista é tão grande) Será que vou gostar tanto dele como do anterior? (geralmente gosto sempre dos livros que leio... gostar tanto de ler permite-me 99% das vezes fazer as escolhas acertadas). Parafraseando Miguel Esteves Cardoso numa entrevista à RTP: "uma pessoa que gosta de ler nunca se vai sentir sozinha". E é verdade. Quando tudo corre mal, sei que aquele livro vai estar à minha espera. Aquelas personagens. Aqueles locais. Aquelas histórias. Tudo isto vai compensar qualquer coisa de mal que esteja a acontecer. Nem que seja por a personagem principal ser ainda mais desgraçada que nós, qual Candide. Ou por a mensagem ser tão inspiradora que nos dá um sentido para a vida, fazendo-nos desdramatizar todas as ninharias do dia-a-dia. Ou por o autor ser tão talentoso que nos sentimos privilegiados por estar ali, em primeira fila, a admirar a sua arte. Ou por nos identificarmos tanto com as personagens que os seus sucessos são os nossos sucessos.

Há tantas maneiras através das quais os livros nos fazem sentir bem que, enumerá-las todas, seria algo impossível.

Se me acontecesse alguma coisa que me impedisse de ler seria mesmo muito infeliz.

Sei que este post não tem piada nenhuma (não que os outros tenham, mas, para que saibam, esforço-me por isso), mas é um assunto que teria que referir até para justificar o estilo que adoptei aqui neste blog. Por gostar tanto de ler é que só escrevo disparates depretensiosos. Por gostar tanto de ler e por apreciar tanto o trabalho dos verdadeiros escritores jamais poderia ambicionar sequer chegar aos seus calcanhares. Não está ao alcance de todos. É por isso que só escrevo disparates. Aquilo que está ao alcance de todos é apreciar este trabalho infinito (já pensaram que vamos morrer sem ler tudo o que há para ler, sem visitar todos os locais que há para visitar, sem ver todos os filmes que há para ver, sem conhecer todas as pessoas que vale a pena conhecer?). E, se houver alguém que torça um bocado o nariz à leitura que se sinta minimamente inspirado ao ler este post fico mesmo muito contente. Aquilo que lhe posso dizer é que, se conseguir aprender a gostar de ler, vai ganhar um superpoder: não só vai conseguir voar, como vai conseguir teletransportar-se, como vai ganhar o dom da ubiquidade, como vai ganhar o poder da invisibilidade... Tudo aquilo que desejarmos, tudo aquilo que quisermos ser, os livros dão-nos. É preciso algum esforço, claro. Mas compensa.



Lado B do post. Quando estava tudo tão bonito, eis que surge o outro lado da moeda:

Segunda parte um tanto ou quanto alucinada


Bom triénio de 2009-2012! Prefiro desejar "bons triénios" visto que poupa-me o trabalho de desejar "bom ano" todos os anos. Algo que é extremamente cansativo e inútil! É óbvio que desejo um bom ano àquelas pessoas a quem desejaria um bom ano. Acho que ninguém é má pessoa ao ponto de desejar que alguém tenha um "mau ano" (e se houver ao menos que se aproveite o final do ano para isso. Não vamos ser hipócritas). Àquelas pessoas a quem não desejaria um bom ano, não vou desejar um bom ano de certeza. Primeiro, porque não frequentam os meus círculos (só fui uma vez à Assembleia da República) e segundo porque não sou hipócrita

Agora que penso nisso às vezes sou um bocadinho. Agora que penso um bocado nisso, esta mania de ter que desejar bom ano a tudo o que mexe por esta altura obriga-nos a sermos hipócritas... Não por desejarmos que essas pessoas tenham maus anos mas porque, às vezes, desejamos bom ano, mesmo estando-nos perfeitamente a marimbar para isso (bela palavra, "marimbar").

Já sabia que iam ter essa reacção. Não façam esse olhar moralista, como quem diz "Ah! Eu não sou hipócrita. Eu, quando desejo um bom ano a alguém estou mesmo a senti-lo". Dou-vos mais uma oportunidade, pensem um bocado: é mesmo verdade que estão genuinamente preocupados que as pessoas a quem desejam um bom ano tenham um bom ano? Eu sabia... Vocês não conseguem aguentar... Basta abanar-vos um bocadinho que descosem-se logo... Ao menos podiam ser mais firmes nas vossas convicções...

Algum dia conseguiriam enganar-me com essa atitude? Algum dia, algum de vocês, se deu ao trabalho de, passados, por exemplo, 6 meses, de terem desejado um bom ano a alguém, irem confirmar se essa pessoa está mesmo a ter um bom ano? Fazem-no com as pessoas que importam, até numa frequência de tempo menor., obviamente. E aí nada contra. Mas não vão, a meio do ano, por exemplo no dia 30 de Junho, preocupar-se em ligar ao indíviduo do telemarketing, que vos tentou vender o pacote Telefone+TV+Internet da Clix e a quem, por acaso, desejaram um bom ano para saber se, realmente, e tal como o tinham desejado, o ano do tipo está a correr bem... Ele até pode, e batam na madeira, ter morrido. E vocês vão estar despreocupados, na vossa vidinha, sem sequer saberem que o vosso desejo de bom ano caiu no saco roto da entidade responsável por garantir que os nossos desejos são atendidos. Essa entidade, que, ou por ser inexistente, ou por ter desígnios próprios e incompreensíveis, é por si só uma razão para acharmos que não vale a pena desejar o que quer que seja a alguém. É que vale apenas pela intenção. O poder, propriamente dito, é inexistente. A não ser que estejamos a esfregar uma lâmpada mágica.

E aí não vamos desejar um bom ano ao tipo do telemarketing. Vamos desejar, obviamente, 5,5 milhões de desejos (não se deixem enganar quando encontrarem uma lâmpada e não estourem logo os desejos em dinheiro, gajas e vida eterna. Desde que descobriram este furo, os Génios da Lâmpada nunca foram os mesmos... "Se ao menos tivéssemos escrito um contrato", pensam eles "Mas não... Basta esfregar... Como fomos tão crentes? Como conseguimos acreditar tão cegamente que toda a Humanidade era tão estúpida como o Aladino? Tantos anos fechados numa Lâmpada mágica deviam ter feito de nós Génios mais vividos, mais matreiros... Mas não... Somos uns Génios da Lâmpada tão ingénuos como um bando de girinos acabados de nascer... Se calhar mais um bocado...").

Mas nem por isso vamos deixar de desejar um bom ano a toda a gente. E também não é por isso que vão deixar de nos retribuir. São as convenções sociais... Como a convenção social de ter que dar prendas no Natal quando ficaria muito mais barato e poupava-nos muita confusão, se déssemos as prendas no Dia de Reis... Não podemos viver sem elas, nem sem as questionarmos. É que se não o fizéssemos estávamos a fugir à convenção social básica para um jovem que é a de questionar todas as convenções sociais. E agora dei um nó na cabeça: "se , para um jovem, é uma convenção social questionar todas as convenções sociais. Devo questioná-las ou não?". É o "quem nasce primeiro? O ovo ou a galinha?" das convenções sociais.

Pensem nisso e, quando tiverem uma resposta, mandem um toque que eu tenho um tarifário bem jeitoso, graças ao fantástico operador de telemarketing que mo arranjou, a segunda melhor pessoa do Mundo, logo a seguir ao CEO da Fnac (já agora, se estiver a ler isto, um chequezito Fnac de 1 milhão de euros até que vinha a calhar... Pense nisso... Eu nem me importava de gravar um anúncio a dizer que "a Fnac é que é e não sei quê"... Fica no ar a ideia...).

E é tudo!

Um sincero, bom triénio! Lá para o meio de 2011 eu faço um follow up do vosso triénio, ver se ele está à altura, deste meu grande desejo: que vocês tenham o triénio mais maravilhoso que é possível alguém ter!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

5 segundos de avanço...


Quando vi o título de capa da Visão desta semana assustei-me... "Será que descobriram um vídeo caseiro do Marcelo Caetano na intimidade", pensei eu. Como se não estivessem a acontecer coisas suficientemente más por esse Mundo fora ainda íamos ter que levar com um vídeo porno do substituto de Salazar vestido de empregada doméstica e a ser açoitado por uma matrona vestida de inspector da PIDE... Afinal não era... Nem tudo é tão mau quanto parece...

É incrível o efeito que uma ambulância provoca no trânsito em hora de ponta. É muito semelhante ao efeito que o Moisés provocou no Mar Vermelho (pelo menos como eu o imagino). É impressionante a maneira como estas criam espaço onde ele não existe...

Hoje em dia, o mais próximo que podemos estar de alguém que adivinha o futuro é estar a ver um jogo de futebol na televisão ao pé de alguém que está a ouvir o mesmo jogo no rádio. É das coisas mais execráveis que se podem fazer a alguém! E, mais importante do que isso, faz-me prezar cada vez mais o livre arbítrio em que firmemente acredito. Basta os tipos estarem 5 segundos adiantados em relação a nós para estragarem completamente a experiência de ver um jogo de futebol: em relação às coisas más retiram-nos toda a esperança, já sabemos por antecipação que o Luisão não vai conseguir tirar a bola em cima da linha de golo ou que o Quim não vai defender aquele penalty. A desilusão é ainda maior visto que estamos a assistir à inevitabilidade da desgraça, a um esforço inútil e inglório "podes sair daí, Quim, não vais defendê-la". As coisas boas perdem a piada toda visto que antes daquele lançamento lateral já sabemos que a jogada vai acabar o golo, retirando-nos a emoção (quase) orgásmica de um golo da nossa equipa. As pessoas que fazem isto são umas bestas e mereciam ser protagonistas de um filme porno com o Marcelo Caetano! Os cafés onde estas pessoas estão deviam ter um aviso de "spoiler alert".

Por outro lado, provam-nos que o livre arbitrio é essencial para a nossa felicidade.

Que piada tem a vida se já soubermos o que vai acontecer com 5 segundos de avanço?

Triste de quem não dá o livre arbítrio como garantido: fatalistas em relação ao futuro, refreados em relação às emoções.

(No café onde eu estava a ver o jogo, houve uma besta que estava a ouvir rádio que se lembrou de anunciar, numa jogada a meio campo, o golo do Benfica. Se por um lado o tipo consegiu estragar-me o prazer de apreciar devidamente o golo da minha equipa, por outro lado deixou-me ainda mais desiludido quando a jogada acabou por não dar em nada... Poucas vezes odiei tanto uma pessoa como naquela altura... Logo a seguir outra besta encarregou-se de anular um golo limpo ao Benfica e, diga-se de passagem, consegui odiá-lo ainda mais... O livre arbítrio é bom, mas devemos ter cuidado ao usá-lo... Não podemos ter a pretensão de querer mudar o passado... A bola estava lá dentro, eu sei que a vontade do árbitro era defendê-la ele próprio, não conseguiu... Nem tudo corre como nós quremos... É assim a vida... Deixava passar e estava tudo bem... Quis abusar do livre arbítrio e foi o que deu...)

A gerência deseja a todos os frequentadores deste estabelecimento um Feliz Natal, se não nos virmos antes! (imaginem que isto está escrito numa montra com aqueles sprays de neve artificial e com umas luzinhas à volta que é para ficar mais bonito)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Cantinho de solidariedade natalícia



Post para ser lido ao som de "If You Don't Know Me By Now" dos Simply Red ou "My Heart Will Go On" de Celine Dion

Como estamos no Natal e como já estou um bocado farto que isto seja o "antro de maledicência" a que estão habituados resolvi dedicar este pequeno espaço à caridade. Acho que todos devemos tentar contribuir para um Mundo melhor. Mesmo...

Sei que não vou mudar muita coisa com isto, mas pelo menos tento e isso é que é importante. Se, por um lado admito que o faço com uma certa motivação egoísta, a de não me sentir tão mal perante as situações terríveis que este Mundo me proporciona porque fiz a minha parte (culpem-me por ser humano). Por outro lado se todos fizessem algo (tal como eu) e tentassem alertar as consciências para os dramas da sociedade, este Mundo não estaria no estado em que está.

Sei que, pelo menos, os 3 leitores deste blog vão ficar sensibilizados (talvez fosse mais eficiente eu mandar uma SMS a cada um, mas vale a tentativa). Eu vou fazer por isso. E o caso é tão dramático que é impossível ficarmos indiferentes.

A causa para a qual vos venho alertar é o desemprego, nomeadamente o desemprego do Santana Lopes. Ninguém tem nada para dar que fazer ao homem? É desesperante ver uma pessoa a dispor-se à humilhação da maneira que ele se dispõe só porque não tem nada que fazer. Dói-me o coração ver alguém a vender o amor próprio e a dignidade só porque precisa de sobreviver. Sempre que há uma eleição lá vem o Santana que nem rato espreitar o furo a ver se arranja algo que fazer durante uns mesitos, mesmo sabendo que vai ser humilhado, enxovalhado, gozado e derrotado.

Não se riam! O homem também tem sentimentos! Chega de vê-lo a candidatar-se a eleições como se não fosse nada connosco. Estamos a destruir o Pedro com a nossa indiferença. Que sociedade fria e cruel é esta que vê alguém em pleno sofrimento e age como se nada fosse e, se for preciso, ainda participa na chacota. E chamam-lhe nomes! Coitado! Não sei como conseguem dormir de noite.

Quando o Santana perdeu as eleições para o PSD ainda tive a esperança que este tormento acabasse, que ele, finalmente, arranjasse um emprego decente e honesto, que, finalmente, encontrasse um rumo... Aliás, sempre que ele perde umas eleições eu tenho essa esperança. Até à próxima eleição, até ver o Santana colocar-se mais uma vez, qual menino de 8 anos franzino, de pernas tortas, de calções com suspensórios e óculos num recreio repleto de rufiões de 14 anos já com barba, no meio da zaragata só para sobreviver.

E eu sei que neste momento, vocês estão: "sim, de facto é triste, mas o que podemos fazer? É mau mas a vida continua...". Sim, é mau, mas a vida não continua. Pelo menos a vida como a conhecemos. A vida não pode seguir o seu curso normal quando há um homem, de carne e osso, a passar pelo sofrimento que o Pedro passa. A vida é mais do que mandar umas postas de pescada e ver o telejornal e acreditar que todos os males só acontecem aos outros. Imaginem que têm um Santana Lopes na família. Iam gostar desta situação? Pois, o Santana também tem família e não podemos olhar para isto como se nada fosse. Quanto à vossa pergunta, eu não me esqueci dela. Mas pelos vistos vocês esqueceram-se e eu vou ter que repeti-la. Esses cérebros de minhoca não dão para mais do que gozar com o pobre do Santana, não é? Vocês perguntaram-me o que é que podem fazer.

Podem fazer muito. Para começar dêem um emprego ao homem. "Ah, mas eu não tenho empregos para dar, quem me dera ter para mim e não sei quê...". Lá estão vocês com a vossa má vontade. É óbvio que a maioria de vocês não tem um cargo de administrador ou de dirigente desportivo para lhe oferecer. Compreendo e nem vou entrar por aí. Mas de certeza que, se se juntarem e discutirem a sério esta questão, sem a galhofa habitual com que falam do Santana, lá descobrem que um de vocês tem um cano roto em que o Santana podia dar um jeitinho (diz que o homem tem jeito para tapar buracos...), ou um interruptor para mudar ou o sifão entupido ou uma casa para pintar...

De certeza que, agora no Inverno, algum de vocês teve necessidade de limpar a chaminé... Lembraram-se do Santana? Claro que não! Nem sei porque é que pergunto... Só se lembram dele quando é para gozar, agora quando é para limpar chaminés "ah vou chamar o Serafim, que ele faz melhor serviço", "pois, mas o Serafim tem um Opel Corsa e foi de férias a Benidorm...", "Ah, pois, não sei, é capaz". Enfim... Não me enganam com essa atitude.

E se discutissem esta questão um pouco melhor ainda chegavam à conclusão que, pelo menos um ou dois de vocês conhecem alguém que precisava de uma senhora para ir lá a casa dar umas horinhas por semana a passar a ferro e a limpar os azulejos da cozinha uma vez por mês. Mas porque é que tem que ser "uma senhora"? Não pode ser o Santana? "Ah, mas ele não fica bem de avental". Pois, nem sei como responder a algo tão fútil... Eu digo-vos como é que ele não fica bem: Ele não fica bem se continuar a ser humilhado da maneira que é! O avental dar-lhe-ia uma dignidade que ele, neste momento, não tem!

Todos conhecem alguém que teve um filho bebé e que até gosta de sair à noite de vez em quando mas não tem ninguém que fique com ele e até pagava uns tostões mas está mesmo complicado para arranjar uma babysitter? Ouvi alguém dizer Santana? Espero que sim... (para quem não percebeu, é mesmo uma ameaça...)

De certeza que qualquer um de vocês tem um amigo de um amigo que tem uns contactos na Destak que o conseguia pôr a distribuir jornais num semáforo qualquer? Toda a gente conhece alguém que conhece um indíviduo que tem uma churrasqueira que está sempre a precisar de alguém para assar frangos. Vão-me dizer que o Santana não servia para isso? Pode não ser muito bom político, nem trapezista, nem neurocirurgião, mas a assar frangos conseguia ser minimamente competente e era sempre menino para animar a malta com umas histórias do Sá Carneiro ou da Cinha Jardim. Vocês têm é má vontade, desculpem lá que vos diga!

De certeza que, pelo menos um de vocês conhece alguém que emprestou dinheiro que nunca mais viu, e que até anda a pensar numa maneira de cobrá-lo e que, por acaso, até tem um fraque encostado do último Carnaval e que está sempre a dizer "É pá, já tenho o fraque, só faltava o cobrador..."? Eu conheço alguém que até fica muito bem de fraque... É preciso dizer mais? Parece que sim porque vocês nem assim percebem... Estou a falar do Santana que não é entroncado, nem é africano mas daria um excelente cobrador de fraque. Quantos de nós gostariam de ser perseguidos por um cobrador de fraque? Agora pergunto, quantos de nós gostariam de ser perseguidos pelo Santana Lopes vestido de fraque? Ui! Escusam de ir a correr pagar as dívidas, só estou a colocar uma hipótese... Se bem vos conheço, com a vossa má vontade, nem vos passou pela cabeça dar este biscate ao Santana, apesar de ser uma excelente ideia...

Na parte que me toca já ando a tentar arranjar-lhe uns biscatezitos... Conto que vocês façam o mesmo. É uma questão de imaginação. Troquem os contactos aí na caixa de comentários, juntem-se para tomar um cafézinho, criem uma associação (porque não "Associação dos Amigos do Santana"?), façam um single de solidariedade, umas rifas, um leilão, umas pulseirinhas de borracha cor-de-laranja, arranjem uns amigos sem braços para pintar uns postais com a boca... Não sei! Mas qualquer coisa serve para salvar um homem que faz questão de estar sempre à beira do abismo... E de cair do abismo e de se partir todo e de se voltar a meter à beira do abismo e assim sucessivamente... Até que algum de nós o ajude... Ajudem-me a ajudar o Santana! Juntem-se a mim no movimento:

Save Santana Lopes!


PS Já repararam na minha pinta a colocar links para o público que nem um maluco? Não digam a ninguém...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Algo vai mal no murroalho!


Isto do Mundo está a funcionar muito mal. No outro dia ouvi uma voz que me disse o seguinte:

- Vai reunir um casal de cada espécie de animais existentes na Terra, constrói uma arca de madeira e espera que chova… Vá! Andor!

Não sei o que isto quer dizer mas, obviamente, fiz ouvidos de mercador Até porque nessa altura estava a discutir a obra de Nietzsche com o meu amigo Saul (sim, vocês conhecem-no, o pequeno Saúl, do "bacalhau quer alho"… Hoje em dia é um nihilista convicto depois de descobrir que o animismo do qual era adepto e que o fazia acreditar que o bacalhau tinha vontade própria ao ponto de querer literalmente alho era só uma grande partida que lhe pregavam para o obrigar a vestir-se de Quim Barreiros… Só uma partida como estas pode levar alguém a vestir-se de Quim Barreiros de livre vontade… Isto é válido para o próprio Quim Barreiros…).

Embalado pelo tom da conversa respondi à voz:

- Tu não és Deus! Deus morreu!

- Morri? Então não estou aqui a falar contigo?

- Quem é que me diz que o facto de eu estar a ouvir a Sua voz não são alucinações devidas à feijoada à transmontana que comi ao almoço, que tão mal me caiu?

- Não é não… Queres ver?

BAM! Pulverizou o pequeno Saúl com um raio… Mesmo à minha frente…

- Eh lá! Grande truque… Mas, obviamente, não chega… - disse eu – Eu sempre avisei o Saúl que não devia sair à rua com tanto metal, mas ele sempre fez questão de andar vestido como o Homem de Lata do Feiticeiro de Oz… Dizia-lhe: "Saul, não saias à rua com tanto metal que ainda vais ser pulverizado por um raio…". Ele não me ligava. Preferia usufruir dos benefícios que essa indumentária lhe trazia junto do sexo feminino. Agora não sei que lhe faça, está ali pulverizado…

- Sérgio, não sei o que queres que te faça mais… Peço-te por favor! Anda lá, constrói a arca…

- Primeiro, quem é o Sérgio? Depois quem és Tu para me dares ordens?

- Sérgio és tu…

- Ah, pois sou… E a segunda pergunta?

- Sou Deus…

- Isso não chega… Boa tarde e passe bem…

- OK! Já que não me podes ajudar vou ali falar com o Fernando Ribeiro dos Moonspell.

- Força! Acho que não podes escolher melhor profeta…

Pela minha experiência, entre Deus e um operador de Telemarketing não há qualquer diferença. É preciso mandá-los calar 1500 vezes antes que eles nos deixam em paz. Ao menos os operadores de telemarketing ainda têm coisas interessantes para nos oferecer como o Canal Benfica, instalações grátis da Meo ou telefone + TV + internet por 49,99 €. Se o melhor que Deus pode fazer por nós é mandar-nos atrás de animais e construir uma arca gigante bem que pode começar a dizer adeus à sua profissão. Não me parece que é assim que ele vai chamar pessoas à boa e velha Igreja… É que o ópio do povo já não é o que era, pelo menos comparado com a televisão.

No entanto, se há lição que podemos retirar deste acto divino, chamemos-lhe assim, é que isto só lá vai com um dilúvio. É que isto do Mundo está a funcionar mesmo muito, muito mal… É que eu nem sei se lhe hei-de chamar Mundo, é que chamar Mundo a este Mundo é, tendo em conta as diferenças existentes, uma injustiça para com o Mundo de há uns tempos atrás. Como tal, vou passar a referir-me a este Mundo como murroalho. É um nome bem mais apropriado ao sítio onde hoje vivemos. E, já agora, isto do Murroalho está a funcionar muito mal!

Todos os dias acordamos neste Murroalho que Deus nos deu e ficamos a pensar: o que raio vai ser de nós? É o aquecimento global, é o crime, é a corrupção, é a falta de respeito para com os direitos humanos básicos da esmagadora maioria da população mundial, é o Sr. Capitalismo que sempre nos garantiu acesso incondicional a bens supérfluos e a gasolina no carro que está a dar o badagaio, sou eu que estou para aqui a escrever isto em vez de fazer qualquer coisa de útil para a sociedade… Eu sei lá… Mais valia começar isto de novo. É que não estou a ver solução nenhuma para o murroalho…

É possível começar de novo? Ou isto do murroalho é um daqueles erros irreversíveis?

O que é que fazemos ao Murroalho? Não sei... Talvez, mandá-lo pró...

(tocam as tarolas e eis que chegámos ao clímax de um texto sem sentido)

P.S. Sou só eu que penso que o verdadeiro Manoel de Oliveira foi trocado aos 50 anos por um Manoel de Oliveira supelente de 20 anos e assim sucessivamente até ao ponto em que o Manoel de Oliveira que supostamente vai fazer 100 anos amanhã é um jovem de 50? Ou isso ou ele é filho de uma tartaruga, o que, a ver pelo ritmo dos seus filmes, é bem provável... É que o homem está bem conservado demais para ser verdadeiro...

Agora a sério, é emocionante ver uma pessoa daquela idade com tanta lucidez e tanto dinamismo... Algo me diz que ainda vai fazer filmes durante muito tempo...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Diálogo de solitária

- De onde vem a vida? - perguntei eu a mim mesmo.
- Muito boa pergunta! - acabei por dizer à minha pessoa - Mas não sei responder a isso, caro amigo... É que se soubesse não perguntava...
- Eu tenho essa mania de fazer perguntas complicadas.
- Pois... És um malandreco. - repliquei eu.
- Como é que sabes? Nem sequer me conheces... - respondi eu ao meu interlocutor, eu próprio.

- Será que se saísse daqui as coisas melhoravam? - voltei a perguntar-me.
- Talvez... Mas não saias... - respondi-me.
- Então e porquê? - inquiri-me, não escondendo um ar intrigado.
- É que eu não quero ficar sozinho.