quinta-feira, 10 de março de 2011

A demagogia na óptica de um energúmeno



Aquele a que muita gente se refere como esfíncter hemorróidico de avestruz e a que outros, com mais receio de polémicas. chamam Miguel Sousa Tavares (MST) resolveu presentear-nos com mais uma brilhante opinião. É sempre positivo quando isso acontece já que as opiniões de MST, quando não são copiadas, são sempre hilariantes. Desta vez, MST aventurou-se pelo comentário político-social, tendo como ponto de partida o Festival RTP da Canção que, como sabemos, foi vencido por uma dupla de comediantes.

Olhando para a lista de vencedores deste Festival em anos anteriores, é fácil concluir que este certame dificilmente despertaria algum tipo de interesse a alguém que goste de música e que não seja masoquista ("Senhora do Mar (negras águas)" de Vânia Fernandes (2008) faz maravilhas em eventos S&M). A vitória dos Homens da Luta este ano é por isso uma lufada de ar fresco para este Festival porque ainda que, tal como a esmagadora maioria dos vencedores de edições anteriores, estes não produzam música de elevada qualidade, pelo menos, têm algum talento.

Aparentemente, para MST o festival da Eurovisão em Dusseldorf é uma oportunidade para agradarmos aos contribuintes alemães e levar a que estes nos emprestem dinheiro. Admito que estes pudessem ficar muito bem impressionados com "Baunilha e Chocolate" de Tó Cruz (1995), "Foi Magia" de Sofia Vitória (2004) ou "Dança Comigo (Vem ser feliz)" de Sabrina (2007). Admito ainda que, tendo em conta o refinado gosto musical que caracteriza os contribuintes alemães, a solução melhor para a economia portuguesa seria naturalizarmos o David Hasselhoff e escolhê-lo para nos representar na Eurovisão. No entanto, só MST poderia acreditar que a representação portuguesa na Eurovisão é determinante para o futuro da nossa economia (quem diria que com uma imaginação destas MST tinha que plagiar um romance fraquinho para ganhar uns trocos?). Segundo MST a salvação da economia portuguesa poderia passar por boas participações portuguesas nos Jogos Sem Fronteiras ou no Sequim D'Ouro. Não deixa de ser curioso verificar que, para MST, os alemães são como ele próprio: bestas sem sentido de humor.

A escolha dos Homens da Luta, segundo MST, pode levar a que, em última instância, os "deolindos" (um povo imaginário que vive nas unhas dos pés do MST?) sigam um líder maluco, graças a ideias demagógicas como a manifestação de 12 de Março. Ainda que concorde com algumas das causas dos precários, MST põe uma geração de jovens qualificados que não tem oportunidades nem perspectivas de futuro no mesmo saco em que põe os demagogos que defendem a demissão de todos os políticos. Para quem tem tanto medo de demagogia, MST não poderia ser mais coerente. Nada a que não nos tenha habituado.

Aparentemente, para MST, todos os movimentos que começam na rua acabam com um ditador. Estaria a referir-se ao movimento pelos direitos civis dos negros americanos, à luta das mulheres pelo direito ao voto ou ao movimento que depôs uns quantos ditadores no Norte de África?

Eu vou à manifestação no dia 12. É a minha obrigação cívica para com a minha geração. Não quero demitir todos os políticos, nem tão pouco defendo um regime ditatorial. Quero apenas exercer o meu direito à liberdade de expressão. À liberdade de expressar algo em que acredito (algo que não poderia fazer com um ditador). Não somos todos Homens da Luta?