quarta-feira, 29 de maio de 2013

Lágrimas de crocodilo


Lágrimas de crocodilo é o termo utilizado para descrever a profunda tristeza que os crocodilos sentem quando se apercebem que o ser humano que estão a devorar está a usar um pólo da Lacoste. É como perceber a meio do jantar que estão a comer um amigo*.

A não ser que se deparem com esses casos supremos de ironia que são pessoas que usam pólos da Lacoste e sapatos de pele de crocodilo. Aí interrogam-se: "O que é que há de errado com esta gente?! O Mundo está perdido! Mas o que é que eu sei? Sou só um simples crocodilo/mascote de marca de vestuário de luxo". E continuam a comer.

*Parecendo que não, é uma coisa capaz de estragar uma refeição. Já nem sabe ao mesmo. Como diria um canibal: "É difícil apreciar devidamente a comida quando não conseguimos deixar de pensar em todos os bons momentos que passámos com a pessoa que está no nosso prato".


Se a minha página no facebook chegar aos 37 milhões de likes ofereço pólos da Lacoste autografados por mim, pelo Presidente dos EUA Barack Obama e pelo Bastonário da Ordem dos Advogados Marinho Pinto a toda a gente. 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Distopia


O obituário da Aranha Homem

Não foi só o Homem Aranha que ganhou poderes depois de ter sido mordido por uma aranha radioactiva. Houve naquele momento uma troca e também a aranha radioactiva ganhou algumas características humanas que a tornaram distinta das restantes aranhas: uma maior inteligência, capacidade de fabricar e usar instrumentos, angústia existencial e uma vontade inexplicável e inconfessável de ver reality shows.

Assim nasceu a Aranha Homem.

Só que ao contrário daquilo que aconteceu com o Homem Aranha, os poderes humanos da Aranha Homem não lhe serviram de grande coisa. Isolaram-na das outras aranhas e reflectiram-se negativamente na sua capacidade de trepar paredes e de produzir teias de aranha. Os seus poderes humanos mais não fizeram do que transformá-la numa aranha extremamente mariquinhas.

Acabou por se enforcar na própria teia por não aguentar a dor psicológica de ter de assistir à morte lenta de inúmeros insectos em teias de aranha. Dor essa agravada pela alegre indiferença com que este bárbaro espectáculo era encarado pelos seus pares. O poder de sentir empatia matou-a. Deixou uma vasta obra literária que nunca vai ser lida por nenhuma aranha.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Arranquei-lhe os tomates à dentada. Qual é mesmo o seu problema, sôtor?

Aqui está a melhor ameaça de sempre feita por um Secretário de Estado britânico: "Se volta a falar assim com os meus técnicos, arranco-lhe os tomates à dentada e envio-lhos dentro de uma caixa".

Não percebo é a lógica de enviar os tomates ao homem dentro de uma caixa. Porque é que ele não lhe devolve os tomates na hora, logo depois de os arrancar à dentada? Tem que os levar para casa? Para os analisar e ver se está tudo bem? E ainda se dá ao trabalho de os meter numa caixinha para não os estragar. Parece-me um procedimento demasiado cuidadoso para quem anda para aí a arrancar testículos à dentada.

Poderá sempre acrescentar uma missiva à encomenda:

Exmo. Sr.,

Venho por este meio devolver-lhe os testículos que lhe arranquei à dentada no outro dia. Deve ter-se perguntado "onde é que aquele tipo vai com os meus testículos?". É difícil responder a essa pergunta em poucas palavras. Digamos que é uma história muito grande que termina comigo a devolvê-los. E é tudo o que lhe interessa. Eu e os seus testículos temos direito à nossa privacidade e peço-lhe que respeite isso. Deixe-se de perguntas estúpidas e intrusivas.

É com prazer que lhe comunico que os seus testículos não apresentam danos de maior e o seu estado é o que seria de esperar depois de cinco dias úteis separados do resto do seu corpo. Há uma possibilidade de continuarem a funcionar, como se estivessem a regressar de uma revigorante ida às termas lol

(a utilização da sigla "lol" em cartas formais não é habitual, mas, como deve compreender, não aguentei... Termas... lol... É normal que não perceba a piada, é uma private joke entre mim e os seus testículos. Eles perceberão)

No outro dia, alguém publicou no facebook esta frase de Mahatma Gandhi (o famoso escultor indiano):

"Às vezes só damos valor às coisas depois de as perdermos".

Encare esta experiência como um novo começo para a sua relação com os seus testículos. Não espero agradecimentos da sua parte pelo favor que lhe fiz ("obrigado", essa palavra tão simples mas infelizmente tão pouco utilizada) mas, por estranho que possa parecer, tenho a convicção de que ter-lhe arrancado os tomates à dentada foi o gesto mais bonito que alguém podia ter feito por si.

Despeço-me cordialmente com o desejo de que esta seja a última vez que o contacto para devolver partes do seu corpo e com as minhas felicitações pelo fim da sua castração temporária. Não é algo que aconteça todos os dias.

Com os melhores cumprimentos,

Senhor da austeridade