terça-feira, 30 de julho de 2013

A regurgitação como a arma da Natureza na batalha contra o Homem racional pelo bem do próprio Homem racional (que normalmente é um idiota)

Ontem à noite vi várias pessoas a vomitar na rua. O que é um espectáculo bonito para quem aprecia o melhor que a natureza tem para nos oferecer. Não por causa da comparação nojenta que se pode fazer entre este fenómeno e uma cascata (só que de cor baça, com bocadinhos de chouriço e a nascer a partir do estômago de um ser humano) mas porque aquele é o momento em que a natureza toma conta da situação, dá um murro na mesa e prova definitivamente que, por mais racionais que achamos que somos, ela terá sempre mais juízo do que nós. Nas palavras da Mãe Natureza:

"Eu avisei-te várias vezes mas tu ignoraste-me e continuaste a beber. E eu tive de intervir, fazendo-te vomitar sushi meio digerido e whisky nos sapatos de vela novos, na camisa da Gant e na rapariga que esperavas levar para casa hoje. A propósito, ela não é tão bonita como pensavas. De nada! Peço por isso muita desculpa pelo incómodo de te ter salvado a vida. E também de uma manhã embaraçosa com essa sósia do Júlio Isidro sobre a qual acabaste de vomitar."

É verdade, a natureza, para além de ter uma atitude extremamente passivo-agressiva ("desculpa por te salvar a vida, palhaço!"), é um mecanismo de segurança perante a nossa estupidez. Salva-nos de nós próprios quando atingimos o limite. E é por isso que é um espectáculo bonito. É como se tivéssemos dentro de nós um "alerta de estupidez" que nos tira o controlo e faz entrar em acção quem realmente percebe do assunto. E como é uma ajuda que não é propriamente agradável e que, ainda por cima, tem uma componente de humilhação social, é ainda mais eficaz. É um salvamento com castigo incluído.

"O contrato é este: eu salvo-te a vida, mas também não te ficas a rir".

É claro que voltamos a errar e a errar num eterno retorno que demonstra que nem com as mensagens mais óbvias conseguimos aprender. Mas o corpo humano está sempre lá para nos salvar quando bebemos. A não ser que decidamos conduzir ou trepar a um andaime ou agredir um cinturão negro de jiu jitsu. A nossa evolução ainda não conseguiu acompanhar a nossa crescente capacidade de inventar novos tipos de risco para nós próprios.

Outra coisa engraçada é que ao lado de alguém que está a vomitar está sempre outra pessoa a apoiar. E esse apoio consiste, normalmente, em acariciar as costas do regurgitador (chamemos-lhe "o idiota") como se estivesse a afagar o lombo de um cavalo ("way to go, boy!"). É uma ajuda bem intencionada mas irrelevante, na medida em que quem está a vomitar não vai estar propriamente a sentir-se reconfortado com essa pequena carícia. Parecendo que não, quando temos o Mundo a sair-nos pela boca é difícil apreciar o calor humano de uma carícia nas costas. Por isso, esta carícia só tem um objectivo que é dar à pessoa que está a "ajudar" a ilusão de que pode fazer alguma coisa pelo seu amigo irresponsável e idiota. Mas na verdade, não pode fazer nada, a natureza já se encarregou do assunto, fazendo o melhor que podia fazer que é expulsar tudo aquilo que o idiota ingeriu a mais de dentro do seu corpo sob a forma de cascata. No fundo, salvando-lhe a vida e garantindo que vai estar lá sempre que ele passar o limite. E isso é bonito! E nojento...

Se fizeres like na minha página do facebook sempre que vomitares vais ser acariciado(a) nas costas por um elemento dos Excesso à tua escolha. 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Fintar o Big Brother

O que é que faz qualquer pessoa razoável que queira proteger a sua privacidade?

Cria um perfil no facebook.

E a seguir?

Declara abaixo assinado no seu mural que quer proteger a sua privacidade.

Assunto resolvido! Poderá continuar a sua vida anónima longe das malhas do Big Brother como se estivesse no século XVII.

Parece estúpido? Se calhar não... É que declarar abaixo assinado no mural do facebook que se pretende proteger a privacidade pode ser, afinal, uma boa maneira de se proteger a privacidade. Ao fazê-lo, a NSA vai perceber imediatamente que essa pessoa não tem competência para planear umas férias em Palma de Maiorca, quanto mais um atentado terrorista, e, automaticamente, ignora-a (os algoritmos têm de ter um filtro que deixam essas pessoas automaticamente de fora... se não tiverem fica aqui a ideia). Pode continuar a fazer o que bem entender sem ninguém a chatear e talvez um dia consiga aparecer na capa da Rolling Stone.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Nasceu um bebé

O futuro rei de Inglaterra nasceu esta semana. Estava com um bocado de receio mas já dá para ver que é uma pessoa espectacular. Vai ser um excelente rei! Pelo menos tem tudo aquilo que se exige para ser rei que é ter nascido. Nem imagino o orgulho destes pais, em tempos tão difíceis nascer já com um emprego é uma grande segurança*.

Tudo é melhor quando há meritocracia e as pessoas são recompensadas pelo seu esforço. É bom saber que se lutarmos muito podemos vir a ser o primogénito de um monarca qualquer. Sigam os vossos sonhos que mais cedo ou mais tarde eles vão concretizar-se.




*Se bem que como as coisas estão ainda vamos ver reis a passarem recibos verdes... Quem é que contrata um monarca hoje em dia? São caros e não trazem grande valor acrescentado. Eu sei do que falo, contratei um marajá para me passar alguma roupa a ferro e o tipo gastava 80% do que ganhava a sustentar o harém. Ainda por cima vinha de elefante para o trabalho! Deixou-me o piso da entrada todo escaqueirado. Felizmente nunca o deixei meter o elefante dentro de casa (a minha colecção de saladeiras da Vista Alegre agradece). Quando ele se foi embora, tive que contratar um faraó para me arranjar aquilo. Esses fazem sempre um bom trabalho. Arranjaram o que lhes pedi e ainda me construíram uma pirâmide no jardim. Em termos de relação qualidade-preço não há melhor, foi o melhor orçamento que me apresentaram. O facto de recorrerem a escravos pode entrar em choque com a nossa mentalidade sensivelzinha do Ocidente mas torna-os bastante competitivos. Na hora de pagar a factura damos graças a Deus pela existência do chicote...

Se queres uma esfinge com a cara do Cristiano Ronaldo no jardim faz like

sábado, 20 de julho de 2013

Ontem atropelei um saco de plástico

Às vezes quando vou a conduzir apanho pequenos sustos porque confundo sacos de plástico a esvoaçar pela estrada com animais. É normal a confusão, animais e sacos de plástico são muito parecidos. Um dia levei um saco do Continente para casa e só me apercebi que afinal não era um cão abandonado quando lhe pus água e comida à frente.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Da comunicação facilitada

Ontem, um senhor veio ter comigo e começou por dizer:

- Isto não é um assalto.

Aqui está uma maneira bem interessante de facilitar a comunicação entre as pessoas. Só ficamos a ganhar quando uma interacção é precedida pela enumeração de tudo aquilo que ela não é.

- Isto não é um homicídio, isto não é uma violação, isto não é um número de malabarismo, isto não é um cachimbo, isto não é o Abel Xavier, isto não é uma leitura d'"Os Lusíadas", isto não é um elfo a jogar raquetes com um anão, isto não é o Cavaco a fazer stand up comedy...

- Então o que é?

- Não me lembro... Ah! É um inquérito que tenho que fazer que, na prática, é uma maneira mais chata de pedir dinheiro...

Se enumerarmos tudo aquilo que uma interacção não vai ser talvez o nosso interlocutor consiga descobrir o que ela é por exclusão de partes. E isso é a regra número um de uma boa comunicação: Não há melhor introdução para um assunto do que uma enumeração exaustiva de tudo o que não está relacionado com ele.

É um bom princípio quando aplicado à actividade de guias turísticos, por exemplo.

- Estamos aqui em frente de uma coisa que não é um urinol, não é um chimpanzé do sexo feminino, não é um chimpanzé do sexo masculino, não é um quadro do Picasso, não é a Torre Eiffel, não é uma Bimby, não é um serial killer, não é uma pega de forcados, não é um electricista, não é o fim do arco-íris, não é a espada do Conan o Bárbaro, não é uma sandes de salmão fumado...

(passados 3 milhões de anos)

...e, finalmente, não é um novo paradigma... Penso que já vos dei informações suficientes para saberem o que é isto...

- Das duas uma, ou é o mosteiro dos Jerónimos ou é o pé esquerdo do Júlio Isidro.

- Tem toda a razão! Esqueci-me de mencionar o pé esquerdo do Júlio Isidro. Não é o pé esquerdo do Júlio Isidro.

- É o mosteiro dos Jerónimos, então...

- Muito bem! O mosteiro dos Jerónimos não foi desenhado pelo Pato Donald, por um televisor da marca Samsung, por um bandolim, pelo vírus da gripe, por mim...

domingo, 7 de julho de 2013

Como encontrar sítios onde se possa vender ouro sem ofender os unicórnios nazis

Onde é que uma pessoa pode vender o seu ouro hoje em dia? Não sei o que é que se passa mas parece que é mais fácil encontrar o Yeti a cavalgar um unicórnio a perseguir uma Harley Davidson conduzida pelo menino Jesus do que um estabelecimento onde se possa vender ouro.

(Será correcto usar o verbo "cavalgar" quando o objecto da acção é um unicórnio? É que não quero ser perfurado pelo corno de um unicórnio ofendido por o associar a um cavalo. Eu sei que a maior parte dos unicórnios não se importa e até é bastante tolerante, mas há sempre aqueles fascistas do Orgulho Unicórnio que advogam a superioridade dos unicórnios em relação a outros equídeos e defendem a pureza do sangue e andam pelas ruas a agredir cavalos, unicórnios que têm relação com cavalos e unicórnios homossexuais e fazem comícios e rapam as crinas e fazem tatuagens alusivas à sua ideologia. Depois de tudo o que passei com minotauros talibans e cíclopes nacionalistas bascos, a última coisa que quero é confusões com unicórnios nazis.)

sábado, 6 de julho de 2013

Racional fatal


Alfredo era uma pessoa ponderada e sensata, que não dava um passo sem pensar duas vezes. Morreu enquanto reflectia nas diversas implicações, nuances, sentidos e interpretações da última frase que lhe foi dirigida: "Sai da frente do comboio, estúpido!".

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Dissolver coisas

Canibal Cavaco Silva (Ah! Ah! Ah! Um trocadilho...)
O Presidente da República pode dissolver a Assembleia da República mas como é que se dissolve um Presidente da República? Num bidão de ácido sulfúrico?

A última pessoa a dar o benefício da dúvida a Passos Coelho para além de Cavaco

"E eu que achava que o Passos Coelho era o gajo que ia levar isto para a frente. É que olhava para ele e via o filho biológico português do Roosevelt, do Churchill, do Nelson Mandela, de um dragão e do Wolverine se fosse possível 3 líderes carismáticos, uma criatura mitológica e um super-herói terem um filho em conjunto.

E ainda bem que não é possível, nem quero imaginar uma noite de amor entre estas 5 personagens. Enfim, quanto maiores as expectativas maiores as desilusões."

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A sinceridade pode destruir o Mundo

 - Então? O que é que achas dos meus quadros?
- Sabes que não sou capaz de te mentir por isso tenho que ser muito sincero, detestei...
- OK!
- Não me leves a mal...
- Não, não, na boa... É a tua opinião...
- ...mas a pintura não é a tua cena, Hitler. Acho que deves arranjar outra maneira de expressar os sentimentos que tens aí dentro...
- Vou pensar nisso... Obrigado pela tua sinceridade!

(Diga-se o que se disser o Hitler conseguia encaixar críticas)

Quem gostar da minha página no Facebook habilita-se a poder tatuar um dos quadros do Hitler nas costas.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Smile, Big Brother is watching you

A frase "Sorria, está a ser filmado" pressupõe que nos devamos sentir gratos? Porquê sorrir? É suposto sentirmos o síndrome do emplastro sempre que estamos a ser filmados? Há algum tipo de alegria primária por detrás da ideia de que a nossa actividade está a ser monitorizada? Estarmos a ser filmados dá um propósito à nossa existência? É para nos enganarem, fazendo-nos pensar que estamos a ser filmados porque merecemos e não para nos apanharem se nos lembrarmos de roubar alguma coisa ou, no caso de sermos uma gaja boa, para melhorar um bocadinho a vida monótona dos seguranças que controlam estas coisas? Como é que eles sabem se estamos a sorrir ou não se a qualidade da imagem da maior parte das câmaras de segurança está ao nível da de uma ecografia das antigas? Será uma espécie de casting? Devemos esperar um telefonema de alguém importante a oferecer-nos trabalho pelo nosso desempenho?

("Vi umas imagens suas numa bomba de gasolina e achei que era perfeito para desempenhar o papel de Mussolini. Você é a imagem perfeita de ditador egocêntrico que dá vontade de desmembrar. A semelhança é tão incrível que tem muita sorte por até agora ninguém o ter desmembrado e espalhado por várias partes de Itália! Estamos também a fazer um filme sobre gente estúpida, feia, com ar esquisito, daquelas que só de olhar já dá vómitos e que sugam a alegria de viver a todos os que estão à sua volta. Talvez tenhamos um papel para si")

Porque não utilizar a frase "roube qualquer coisa, está a ser filmado e precisamos de justificar o investimento num sistema de segurança" ou "faça qualquer coisa parva, está ser filmado e não há vídeos suficientes de gente a fazer coisas parvas no youtube" ou "está a ser filmado"?

Se gostarem da minha página no facebook habilitam-se a ir ver o Big Brother ao vivo.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Medo do compromisso

"Sempre tive dificuldade em assumir compromissos. São uma prisão e eu sou e sempre serei um homem livre. O lugar de um leão é na selva, a comer os antílopes que lhe apetece, a rosnar alto e a abanar a juba ao vento para impressionar leoas. Para quê fazer a escolha voluntária de ir para um circo levar chicotadas de um domador qualquer quando se pode ser o rei da Selva? A mim não me apanham no circo!" pensava ele enquanto escolhia qual a melhor gravata para usar no jantar com os pais da sua amiga colorida.