sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Do casamento do Clooney à minha "relação" com Oliver Stone

O George Clooney casou-se. E, aparentemente, isso é um facto digno de ser noticiado nos telejornais portugueses e neste blog. Porque é importante. Quando vemos um filme do George Clooney é importante estarmos a par da vida privada dele. Não conseguimos apreciar devidamente o seu desempenho como árvore ou pirata se não soubermos com quem é que ele dorme.

O Clooney fechou Veneza para o seu casamento e eu fiquei aliviado por não ter sido convidado. Não sei qual é o mínimo que tem que se dar de prenda num casamento que implica o encerramento de uma cidade europeia de grande dimensão mas deve estar muito para além das minhas possibilidades. Mesmo em casamentos normais, duvido que aquilo que ofereço dê para pagar a quantidade de leitão que eu enfardo.

E nunca fui a um casamento em que fechassem uma cidade ou até uma freguesia! Os casamentos a que eu vou não implicam que as pessoas que moram à volta deixem de fazer a sua vida normal (excepto num casamento em que um tio meu bebeu tanto que começou a vandalizar a casa do vizinho, mas mesmo isto não se compara com o transtorno por que passaram os habitantes de Veneza).

Se chegasse àquele casamento com 100 euros em meu nome e da minha acompanhante para dar ao George não ia sentir-me à vontade para comer mais do que um camarão nas entradas. E ninguém vai a um casamento para passar fome. Por isso, mesmo que fosse convidado, provavelmente não iria.

Mas na verdade, nunca esperei ser convidado. Não sou como aquelas pessoas que ficam tristes quando as celebridades de quem são fãs se casam e felizes quando se divorciam.

O que é absurdo e torna ainda mais absurdo o tom com que estas "notícias" são dadas: "o solteirão mais cobiçado do mundo vai casar-se". Como quem diz "Lamento, minhas senhoras, o George já não está disponível. Reduziram drasticamente as hipóteses de (1) se cruzarem com ele no Lidl mais próximo da sua residência e (2) ele se apaixonar perdidamente por vocês. Mas a esperança é a última a morrer!".

Não, a esperança não é a última a morrer. A esperança deve morrer num prazo razoável (por exemplo, bem antes de decidirmos aparecer em frente de um júri que avalia o nosso talento inexistente para as cantorias). Para quem gosta de números, deve ser a 47.ª coisa a morrer. Se morrerem 46 coisas e continuarmos a ter esperança, é porque vivemos num Mundo de fantasia e convivemos bem com 46 cadáveres à nossa volta. O que não são características aceitáveis num ser humano decente. Vão ter uma vida mais tranquila se aceitarem o simples facto de que a esperança não é a última a morrer e de que dificilmente vão casar-se com uma estrela de Hollywood.

Para dar um exemplo, o mais próximo que eu estive de uma estrela de Hollywood foi na sexta feira (26 de Setembro), quando o realizador Oliver Stone veio dar uma conferência a dois passos de minha casa, literalmente. Se eu estivesse a tentar seduzi-lo seria a minha janela de oportunidade. Mudava a minha vida. Casava-me com um grande realizador de Hollywood com uma certa idade, tinha hipótese de entrar em alguns filmes e, em pouco tempo, herdava uns milhões de euros.

Por mais que eu estivesse determinado em ser o gold digger do Oliver Stone (não estava!), havia demasiados obstáculos para o engatar naquele contexto. Primeiro, nem eu, nem ele somos gays. Uma relação, por mais interesseira que seja, dificilmente funcionará nestes moldes. Segundo, antes de olhar para mim, mesmo naquela sala quase vazia, havia pessoas muito mais interessantes do que eu (o presidente da Câmara do Porto, por exemplo). Terceiro, não havia a mínima hipótese de falar com ele o tempo suficiente para qualquer pick up line fazer efeito. O Presidente da Câmara do Porto Rui Moreira esteve bem mais perto de o engatar do que eu. E, que eu saiba, também não conseguiu. Se conseguisse, não se falava de outra coisa neste país.

É esquisito que eu esteja a pôr a hipótese de engatar o Oliver Stone porque mesmo que naquele momento todas as pessoas do Mundo desaparecessem e eu ficasse sozinho neste planeta com o Oliver Stone jamais teria uma relação amorosa com ele. É que nem o argumento da continuação da espécie se aplica neste caso. Podíamos tornar-nos amigos, mas não mais do que isso. O momento em que eu me visse sozinho no Mundo com um sexagenário seria o momento em que eu me tornaria celibatário. Arrumava de vez com a ideia de voltar a fazer sexo.

Esta história pode parecer ridícula (e é), mas é ilustradora das probabilidades de uma pessoa normal vir a ter um relacionamento com uma estrela de Hollywood. A vida não é uma comédia romântica e a Julia Roberts não vai entrar na nossa livraria de bairro.

E acho que vou parar esta estupidez por aqui.

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